A democracia sob ataque | Page 131

rio brasileiro sem incluir na análise os grandes grupos econômicos que atuam nas regiões dinâmicas da agropecuária brasileira ou no âmbito das cadeias produtivas ?
( b ) outro aspecto negativo que vem enfraquecendo fortemente a ação da EA é a sua incapacidade de separar mais claramente “ ciência e militância política ( e , em especial , a partidária )”. Sobre tal exigência lógica , para desenvolver credibilidade e reputação científica , não me estenderei , pois são inúmeros e notórios os exemplos e situações . Não sendo realizado um esforço de estabelecer fronteiras visíveis entre as exigências científicas , o rigor analítico e as práticas canônicas da vida acadêmica , de um lado , e as escolhas políticas pessoais , de outro lado , a EA apenas se apequena , em todos os âmbitos ;
( c ) a esquerda agrária , mais do que qualquer outro subgrupo das Ciências Sociais , desenvolveu até aqui uma enorme confusão conceitual sobre “ o empírico ” e seu papel na construção do conhecimento . Há , sobre o tema , uma herança de controvérsias intensas , desenvolvidas nas décadas de 1970 e 1980 , quando “ as grandes narrativas ” ( como o Marxismo , o Estrutural-funcionalismo e outras escolas ) se debatiam e as tradições de esquerda combatiam tenazmente o “ empiricismo ” das tradições analíticas não marxistas . Como no geral uma proporção significativa dos integrantes atuais da EA estuda muito pouco , parece não ter conhecido esses debates do passado e , assim , criticam paradigmas que exageraram a valorização do empírico , mas esta crítica acabou também gerando práticas de pesquisas , entre os membros da EA , que são absurdas – porque desvalorizam a pesquisa de campo , o levantamento de dados e o conhecimento das realidades rurais ;
( d ) é assustador o paroquialismo da EA no Brasil e , ainda mais , são inacreditáveis as generalizações sobre “ o todo ” a partir de evidências microscópicas do ponto de vista empírico . Quase sempre , as opções analíticas são “ o local ”, o qual , no entanto , é extrapolado para “ o nacional ” e , às vezes , até para “ o global ”. São narrativas surpreendentes , em face de sua pobreza analítica e , com maior surpresa , envolvendo universidades de prestígio e colegas pesquisadores que são influentes . Bastaria lembrar , como um exemplo ilustrativo , as dezenas de pesquisas sobre manifestações sociais de grupos e classes de famílias rurais mais pobres que têm sido imediatamente transformadas ( pelos pesquisadores , não pelos protagonistas ) em evidências concretas de “ formas de resistência social ” ( ao capitalismo , é claro ), mas sem nenhuma prova empírica que estabeleça esta relação factual ;
Qual o futuro ( próximo ) da esquerda agrária ?
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