A democracia sob ataque | Page 129

A justificativa
O pressuposto que anima esta curta reflexão deve ser , portanto , imediatamente enunciado . Para analisar com maior precisão os processos sociais rurais em curso no país , precisamos de um vivo e ativo “ pensamento à esquerda ”. Em decorrência , o lento e gradual estiolamento ora observado nesse campo de inquirição é um desenvolvimento profundamente deletério à nossa capacidade de avançar o conhecimento mais sólido acerca da produção agropecuária e da vida social rural .
Processos sociais ( incluindo os econômicos ) nunca serão consensualmente explicados e , por isso , o conhecimento científico que pretende se apresentar como sendo “ a verdade ” ( ou , pelo menos , intenta ser a explicação mais influente ) somente virá a lume a partir da existência de um ambiente de pesquisa pluralista e do confronto de visões de mundo , ideologias , teorias , modelos analíticos e paradigmas . Uma de nossas tantas tragédias é que , no Brasil , esta tem sido uma situação de rara ocorrência . A marca principal das Ciências Sociais dedicadas ao “ rural ” tem sido a interdição , quando não a desqualificação imediata , de toda e qualquer produção científica que não seja a mesma adotada pelo próprio autor ou sua escola de pensamento . A fertilização do campo de debates via o confronto de ideias – um dos cânones fundamentais da prática científica – tem sido a exceção em nossa vida universitária e acadêmica .
A perda crescente de influência da “ esquerda agrária ” ( EA ) e a diluição contínua deste campo interpretativo inevitavelmente empobrecem as possibilidades de compreensão acerca do mundo rural . Estas são tendências que precisam ser devidamente discutidas , no sentido de perceber suas causas e , eventualmente , abrir espaços para a sua reconstituição , ainda que necessariamente sob lentes teóricas novas e renovadas . Insistir , em larga proporção , na ortodoxia clássica significará , concretamente , a pá de cal nas possibilidades objetivas deste grupo interpretativo manter-se como segmento respeitável da comunidade científica que estuda os processos sociais rurais .
de 1977 e 1981 . Quando submeti minha candidatura , a Universidade mantinha um “ Departamento de Estudos Marxistas ”, no qual o grande nome era István Mészáros , o lendário filósofo de origem húngara discípulo de Lukács . Com a assunção de Thatcher ao poder , em 1979 , esse Departamento foi extinto , em função dos cortes orçamentários . Fui aluno de Mészáros e de outro brilhante professor de Sussex , Tom Bottomore , talvez o maior marxólogo de todos os tempos .
Qual o futuro ( próximo ) da esquerda agrária ?
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