A crise não parece ter fim PD48 | Page 95

venientes. Ou será que ele é que estava errado? Se o seu exemplo valesse, cadelinhas de estimação não andariam em carros oficiais. Mesmo que tivessem nome francês e estivessem estres- sadas. Esta cadelinha tinha o nome de Michele e era transpor- tada do Palácio da Alvorada, onde morava, para o gabinete do presidente da República por sugestão do veterinário-psicólogo que a assistia. A impunidade e um sistema de publicidade que dava mais importância à fantasia do que à realidade transfor- maram a maioria dos brasileiros em cordeirinhos que, sem nenhum senso crítico, a tudo aplaudiam. A crise da economia, o domínio da corrupção, o nascimento da Operação Lava-Jato e a presença mais firme do Judiciário vão revelando o país verda- deiro e os responsáveis pelos desmandos. Hoje, a grande maioria dos brasileiros sabe que os nossos representantes agem sempre em proveito próprio e têm como prin- cipal objetivo permanecerem no poder. Com exceções, cada vez menores. Não são mais homens públicos, uma vez que só cuidam dos seus interesses privados. E tratam de tornar sigilosas suas ações, principalmente os responsáveis pelo Poder Executivo que, através de decretos, impedem que o povo saiba como e com quem são usadas as aeronaves públicas, por exemplo. E depois, simples- mente, alegam que não praticaram nenhuma ilegalidade. Assim também ministros, deputados e senadores que usam os aviões da FAB por todo o Brasil de forma abusiva e desonesta. Mas legais, dirão eles sempre. Não superaremos a crise que vivemos se o exemplo não vier dos ocupantes do poder. O nosso sistema político é muito caro e pouquíssimos partidos querem modificá-lo. A grande maioria, ao contrário, quer sempre tirar mais vantagem. Não há decreto, nem medida provisória que possa ocultar os abusos. O homem pode até deixar de ser público mas a sua privaci- dade não será mais respeitada. Os sistemas de comunicação instantâneos, os aparelhos que fotografam e gravam conversas e sons estão nas mãos da maioria dos brasileiros, as câmeras estão em todas as esquinas, prédios e casas. O povo não é mais um bando de idiotas. O direito de estar só vai acabando. Diante dessa nova realidade, a privatização e apare- lhamento da administração pública tornam-se comportamentos verdadeiramente públicos, do conhecimento de todos, e espalha- dos pelas redes sociais aos quatro cantos do país. As alegações de legalidade acabam ficando ridículas. Homem público 93