venientes. Ou será que ele é que estava errado? Se o seu exemplo
valesse, cadelinhas de estimação não andariam em carros
oficiais. Mesmo que tivessem nome francês e estivessem estres-
sadas. Esta cadelinha tinha o nome de Michele e era transpor-
tada do Palácio da Alvorada, onde morava, para o gabinete do
presidente da República por sugestão do veterinário-psicólogo
que a assistia. A impunidade e um sistema de publicidade que
dava mais importância à fantasia do que à realidade transfor-
maram a maioria dos brasileiros em cordeirinhos que, sem
nenhum senso crítico, a tudo aplaudiam. A crise da economia, o
domínio da corrupção, o nascimento da Operação Lava-Jato e a
presença mais firme do Judiciário vão revelando o país verda-
deiro e os responsáveis pelos desmandos.
Hoje, a grande maioria dos brasileiros sabe que os nossos
representantes agem sempre em proveito próprio e têm como prin-
cipal objetivo permanecerem no poder. Com exceções, cada vez
menores. Não são mais homens públicos, uma vez que só cuidam
dos seus interesses privados. E tratam de tornar sigilosas suas
ações, principalmente os responsáveis pelo Poder Executivo que,
através de decretos, impedem que o povo saiba como e com quem
são usadas as aeronaves públicas, por exemplo. E depois, simples-
mente, alegam que não praticaram nenhuma ilegalidade. Assim
também ministros, deputados e senadores que usam os aviões da
FAB por todo o Brasil de forma abusiva e desonesta. Mas legais,
dirão eles sempre.
Não superaremos a crise que vivemos se o exemplo não vier
dos ocupantes do poder. O nosso sistema político é muito caro e
pouquíssimos partidos querem modificá-lo. A grande maioria, ao
contrário, quer sempre tirar mais vantagem. Não há decreto, nem
medida provisória que possa ocultar os abusos.
O homem pode até deixar de ser público mas a sua privaci-
dade não será mais respeitada. Os sistemas de comunicação
instantâneos, os aparelhos que fotografam e gravam conversas e
sons estão nas mãos da maioria dos brasileiros, as câmeras estão
em todas as esquinas, prédios e casas.
O povo não é mais um bando de idiotas. O direito de estar só
vai acabando. Diante dessa nova realidade, a privatização e apare-
lhamento da administração pública tornam-se comportamentos
verdadeiramente públicos, do conhecimento de todos, e espalha-
dos pelas redes sociais aos quatro cantos do país. As alegações de
legalidade acabam ficando ridículas.
Homem público
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