A crise não parece ter fim PD48 | Page 89

mento adequado, com capacidade de atendimento, da atenção primária à alta complexidade, que mereça ser chamado como tal. Mantida à custa de mentiras, mistificações, malversações, projetos delirantes, especialistas de fundo de quintal, administra- dores ineptos, temos uma saúde pública de quinta categoria, um povo abandonado à própria sorte. Trata-se de um sistema comple- tamente irracional, perdulário. Assim como temos dezenas de milhões de cidadãos mal diagnosticados, não atendidos crimino- samente na parte terapêutica, medicamentosa, cirúrgica, há dezenas de bilhões mal aplicados, mal administrados, apropria- dos indébita e criminosamente em todas as áreas do sistema (médica, técnica e administrativa). O atendimento, em todas as suas fases, da consulta ao procedi- mento final, de baixa qualidade, é exercido e ofertado como conces- são a inferiores, que não merecem mais que essa medicina de baixa qualidade, adequada e programada para os milhões de párias do país. Sim, nós temos castas, tão ou mais estratificadas que a Índia. E dispensamos a infâmia religiosa como discurso de apoio. Quero deixar claro que não estou incluindo nesse mundo, nessa realidade, a medicina privada. Ela não é medicina, ela é prestação de serviços assistenciais, pagos por preços de mercado. Medicina e saúde pública é outro mundo, outra realidade, outra cidadania, outros direitos, outro país. E a medicina privada, a bordo de ministros da saúde não comprometidos com a saúde pública, como direito constitucional e direito à vida, apossa-se de 50% do orçamento do SUS (atualmente algo em torno de 70 bilhões de reais, do orçamento executado) vendendo serviços condicionais, caríssimos. Com esta privatização hedionda que fizeram do SUS, quais as melhoras que houve nos indicadores de qualidade do sistema? A média nacional de uma cirurgia eletiva de mediana complexi- dade pode chegar a 3 anos em 80% do país; um tratamento onco- lógico que poderia garantir uma sobrevida de muitos anos, não é feito, simplesmente não é feito. Neste caso, é mais delicado e próprio falar em pacientes com sentenças de morte brancas emiti- das pelo sistema. O que foi feito pelo SUS, nos últimos vinte anos, só tem culpados, todos culpados, nada mais que culpados. Presidentes da República omissos, covardes, ministros da Saúde que chamados como tais é ofender a todos vocês, os que padeceram, padecem, os que já morreram nos corredores do sistema, e tais grupos profissionais mafiosos, dirigidos por médi- A escolha de Sofia 87