É preciso estar bem consciente de que “é mais fácil fugir de
uma prisão do que sair de uma racionalidade, porque isso signi-
fica livrar-se de um sistema de normas instaurado por meio de
todo um trabalho de interiorização. Isso vale em particular para
a racionalidade neoliberal, na medida em que esta tende a tran-
car o sujeito na pequena ‘jaula de aço’ que ele próprio construiu
para si. Assim, a questão é, primeiro e acima de tudo, como
preparar o caminho para tal saída, isto é, como resistir aqui e
agora à racionalidade dominante. O único caminho provável é
promover, desde já, formas de subjetivação alternativas ao
modelo da empresa em si” (p. 396).
A nova razão do mundo sustenta-se no que Dardot e Laval
chamam de “o princípio do comum, que emana hoje dos movimen-
tos, das lutas e das experiências [e] remete a um sistema de práti-
cas diretamente contrárias à racionalidade neoliberal e capazes
de revolucionar o conjunto das relações sociais” (p. 9).
Para eles, “Cabe a nós permitir que um novo sentido do possí-
vel abra caminho. O governo dos homens pode alinhar-se a outros
horizontes, além daqueles da maximização do desempenho, da
produção ilimitada, do controle generalizado. Ele pode sustentar-
se num governo de si mesmo que leva a outras relações com os
outros, além daquelas da concorrência entre ‘atores autoempreen-
dedores’. As práticas de ‘comunização’ do saber, de assistência
mútua, de trabalho cooperativo podem indicar os traços de outra
razão do mundo. Não saberíamos designa r melhor essa razão
alternativa senão pela razão do comum” (p. 402).
Esta nova razão, conforme os autores, “faz prevalecer o uso
comum sobre a propriedade privada exclusiva, o autogoverno
democrático sobre o comando hierárquico e, acima de tudo, torna
a coatividade indissociável da codecisão” (p. 9). Enfim, como diz
Caetano: “Eu não espero pelo dia em que todos os homens concor-
dem,/ Apenas sei de diversas harmonias bonitas possíveis sem
Juízo Final”.
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Cláudio Ferreira Lima