A crise não parece ter fim PD48 | Page 78

Este ser é o EU S / A , quer dizer , o neosujeito , o sujeito neoliberal , que não se vê como trabalhador , mas , isto sim , como empresa que vende um serviço no mercado . Em sua gestão de si mesmo , fabrica para si mesmo um eu produtivo . É o homem da competição e do desempenho , que procura maximizar o seu capital humano em todas as direções , o empreendedor de si , feito para “ ganhar ”, ser bem-sucedido .
Daí , aos quatro ventos , “ Uma imensa literatura de revistas , uma enxurrada de programas de televisão , um teatro político e mediático non stop e um imenso discurso publicitário e propagandístico exibem incessantemente o ‘ sucesso ’ como valor supremo , sejam quais forem os meios para consegui-lo ” ( p . 361 ).
A nova norma de si é a realização pessoal : autoconhecimento e autoestima , para chegar lá . Para isso , recebe formação especializada em empresas de si mesmo ( coaching ), onde ouve , ad nauseam , a conhecida frase de Tom Peters , um dos mais famosos gurus da gestão : “ Corra ! Bem-vindo à Era EU S / A . Você não é um título ou um cargo em uma empresa . Você é uma marca ”.
Seguindo essa orientação , em A era do EU S / A : em busca da imagem profissional de sucesso ( Saraiva , 2004 ), Marlene Theodoro mostra quanto a atuação individualizada , devotada a administrar uma marca , é crucial para o sucesso de qualquer indivíduo nos dias de hoje .
A nova ética do trabalho tem como grande princípio “ a ideia de que a conjunção entre as aspirações individuais e os objetivos de excelência da empresa , entre o projeto pessoal e o projeto da empresa , somente é possível se cada indivíduo se tornar uma pequena empresa . Em outras palavras , isso pressupõe conceber a empresa como uma entidade composta de pequenas empresas de si mesmo ” ( p . 334 ).
Ora , numa perspectiva patológica , “ Quando o sujeito empresarial vincula seu narcisismo ao sucesso de si mesmo conjugado com o da empresa , num clima de guerra concorrencial , o menor ‘ revés do destino ’ pode ter efeitos extremamente violentos . A gestão neoliberal da empresa , interiorizando a coerção de mercado , introduz a incerteza e a brutalidade da competição e faz os sujeitos assumi-las como um fracasso pessoal , uma vergonha , uma desvalorização ” ( p . 363 ).
Ainda nessa mesma perspectiva , “ A depressão é , na verdade , o outro lado do desempenho , uma resposta do sujeito à injunção de
76 Cláudio Ferreira Lima