A crise não parece ter fim PD48 | Page 71

dente caberá manter a estabilidade das políticas permanentes, mesmo que as questões conjunturais de governo sofram de intensa instabilidade. E é claro que isso dá à política e à economia, como de resto a toda vida nacional, um mecanismo mais claro e eficiente para atravessar, em menor tempo e com maior garantia de sucesso, as épocas de maior turbulência nacional. No parlamentarismo, ao chefe de governo, ou propriamente ao primeiro ministro e seu gabinete (ministério) caberá, como execu- tores das políticas públicas de governo, um papel de intensa inte- ração com o parlamento para formar permanentemente maiorias capazes de administrar o país, porque do contrário terão vida curta e, com eles, tudo sucumbirá no redemoinho das eleições antecipadas. Em tais circunstâncias, a dinâmica da política parlamentarista tenderá a superar uma das maiores chagas de nossa vida congressual, ou seja, a engessada dicotomia governo/ oposição que é marca registrada do funcionamento atual da Câmara Federal e do Senado no Brasil, criando via de regra pola- rizações estúpidas e fortemente influenciadas pelo poder econô- mico e pela ação dos lobbies e da corrupção. No parlamentarismo, é óbvio, não desaparece a díade governo/ oposição nem outras divisões mais específicas por grupos de inte- resses. Porém, a dinâmica diferente em relação ao presidencialismo cria entre todos os parlamentares a consciência de que, em última instância, fazem parte do mesmo barco e que chamar tempestades não é de bom tom visto que se, na borrasca, o barco afunda, todos se afogarão no sorvedouro das eleições antecipadas. Portanto, a vida demonstrará que a busca pela construção permanente de consensos poderá se mostrar mais interessante do que aquilo que ocorre atualmente, fazendo com que o embate parlamentar seja crescentemente mais programático e menos fisiológico. Os críticos do parlamentarismo têm algumas razões proceden- tes, todavia não aquelas atinentes ao próprio sistema, mas sim a algumas premissas que são essenciais para que a aposta parla- mentarista não surja suspensa no ar ou acomodada em ambiente onde o pelanco do presidencialismo voou, mas o seu ninho de práti- cas e normas obsoletas e autoritárias permaneceu intacto. Para dar certo no Brasil o parlamentarismo deve ser implan- tado como locomotiva de uma reforma política digna deste nome. E aqui, dentre outras mudanças necessárias, uma será funda- mental. Ou seja, aquela que prepare os partidos políticos para agir propositivamente qualificando o novo sistema. E nesse Novamente o parlamentarismo 69