Novamente o parlamentarismo
Anivaldo Miranda
É
recorrente em tempos de crise política no Brasil a reapa-
rição da ideia de adoção do sistema parlamentarista como
remédio eficaz para a rápida normalização da vida institu-
cional. E é uma pena que essa ideia ressurja sempre dentro desse
contexto de oportunismo, como se o parlamentarismo se asseme-
lhasse a uma gambiarra feita para solucionar algum problema
grave de última hora.
Todavia, como a cavalo dado não se olha os dentes, seria
imperdoável deixar de lado a chance que se apresenta para,
mesmo no contexto da crise, recolocar o parlamentarismo no
cardápio do debate político-institucional, fazendo um esforço para
retirar do tema este cheiro de coisa improvisada e tratando-o
como ele realmente merece, ou seja, como ideia-força de uma
reforma política abrangente, capaz de tornar o Brasil mais prepa-
rado para enfrentar os enormes desafios do novo século.
Os eternos pessimistas diriam que o parlamentarismo no Brasil
não passa de um devaneio, sobretudo porque encontraria no
Congresso Nacional uma avassaladora resistência da chamada
classe política. Embora a afirmativa seja verdadeira, ela não esgota,
porém, o universo de possibilidades que poderiam fazer prosperar
a ideia. Porque é nessa circunstância que reside, paradoxalmente,
uma possível chance de êxito para a mudança parlamentarista.
Até agora a luta pelo parlamentarismo tem ficado quase
sempre restrita ao universo da política quando deveria, há muito,
ter fixado como alvo a opinião pública e como objetivo permanente
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