crise não passa? Porque suas causas principais não têm sido
atacadas, ou enfrentadas adequadamente, haja vista a constata-
ção de que a maioria dos atores políticos (partidos e seus líde-
res), não está nem aí para o país. Seu desejo é o poder, apenas,
e para tanto, qualquer coisa vale.
E foi essa cultura de descompromisso e irresponsabilidade
que alimentou este velho e carcomido sistema presidencialista e
fez surgir entre nós falsos líderes, já que não fomos capazes de
edificar caminhos libertadores para uma efetiva cidadania repu-
blicana. Já ficamos felizes em amortecer a pobreza por meio de
programas sociais de pouca sustentação. Partidos da oposição ou
de uma pretensa esquerda se encantaram com tal perspectiva de
dominação, especialmente porque fizeram dos beneficiários ou
dependentes de antes, sua clientela preferencial de agora.
Depois do PMDB, de José Sarney e de Collor, passando pelo
PSDB, Lula e seu partido, principalmente após a proeminência
das bolsas de toda a espécie, tinham um rebanho pra chamar de
seu... Mas, alguns lá atrás já diziam que nenhuma bolsa,
nenhum programa de transferência de renda em si transformará
esses milhões de desvalidos sociais, se tais benefícios não se
fizerem acompanhar de educação e de uma orientação realmente
libertadora. A simples aplicação da receita assistencialista só
poderia chegar aonde chegou: na ilusão torpe de um “pai ou de
uma mãe dos pobres”, para continuarem pobres e dependentes e
seguir alimentando o velho curral eleitoral inaugurado tempos
atrás pelos coronéis...
Este o retrato atual desse despedaçado sistema presidencia-
lista, que não prospera mais, já que as fontes que o alimentavam
na corrupção agora estão sendo desmascaradas inapelavelmente.
O poder central no país precisa ser compartilhado, melhor divi-
dido e renovado profundamente e, para tal, temos a obrigação de
começar, e já, a construção de uma alternativa que, em minha
opinião, bem pode ser o parlamentarismo ou o semipresidencia-
lismo, sistema que permite o enfrentamento ágil das crises, sem
abalar as estruturas da República e sem causar os terríveis danos
econômicos que hoje vivemos.
Só o que precisamos é juntar as pessoas e as lideranças de
bem do país para iniciar pra valer este debate, sem pressa para
implantar, porque não seria possível pensar em tal mudança já
para 2018, uma vez que será necessária uma ampla e pedagógica
discussão, no conjunto de toda a sociedade e de toda a Federação,
62
Chico Andrade