de múltiplos direitos sociais e de cidadania, e muito provável, sem
as necessárias contrapartidas de deveres claramente acordados.
Embora nossas primeiras experiências políticas, ainda como
colônia e depois no Império, tenham sido exatamente as Câmaras
de Vereadores, ou seja, o Parlamento, pouco acumulamos sobre a
ideia do compartilhamento do poder. O ideário positivista plan-
tado entre nós foi nos levando, cada vez mais, para uma perspec-
tiva autoritária na ocupação do Poder Central e, se bem recordar-
mos, quase nada avançamos com o nobre espírito republicano,
além do legado de verdadeiras castas ou grupos familiares encas-
telados em cada canto da República nestes quase cento e vinte e
oito anos de presidencialismo, contando os intervalos de ditadu-
ras e de presidentes eleitos “livre e democraticamente”.
Disseminamos, é verdade, entre nós a bela ideia de cidada-
nia, mas, infelizmente, pouco ou quase nada fizemos para formar
cidadãos. E hoje é de cidadãos ativos e plenos o que de mais
precisamos para sairmos do atraso educacional e cultural em
que nos encontramos.
Agora vivemos como o doente em fase aguda, perpassando os
intervalos entre os efeitos da morfina e o adormecimento. Temos
tantos partidos que é impossível a um jovem, ainda que de boa
iniciação educacional, entender o porquê disso, já que, em ideias,
quase nada a maioria se diferencia, além do indiscreto desejo de
alçar ao poder para lá se locupletar.
A crise e seus nefastos efeitos colocaram na rua milhões de
trabalhadores e trabalhadoras, fizeram centenas de milhares de
pequenos e micros comerciantes e empreendedores desistirem de
seus sonhos, afastaram de nós os investimentos externos tão
necessários, colocaram o país novamente no rol da desconfiança,
mundo afora. E ante mais de uma centena de altas autoridades
denunciadas por corrupção ou desvios éticos e morais, entre as
quais, senadores, governadores, deputados e até o presidente da
República, gente de quase todos os partidos, o que fazemos, além
de contemplar no Jornal Nacional os capítulos renitentes da novela
da Lava-Jato ou de ver governantes e autoridades dos três poderes
quase em luta pessoal, em capítulos assustadores e bizarros?
Tiramos, pela segunda vez do poder, pelo impeachment, a
maior autoridade da República, mas diante da epidemia de
roubalheira e de insensatez política a que fomos submetidos,
isso não foi suficiente para aplacar a crise e os ânimos belige-
rantes das principais facções em luta política. E por que essa
A crise que rouba nossas energias não pode sufocar a esperança
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