A crise não parece ter fim PD48 | Page 44

(Dasp) deu origem a uma nova burocracia, menos afeita ao tráfico de influências, às práticas nepotistas e a outras regalias. Os privilégios Em 1943, um documento intitulado Manifesto dos Mineiros, assinado por intelectuais e influentes figuras políticas, exigiu o fim do Estado Novo e a retomada da democracia. Vargas criou uma emenda constitucional que permitia a criação de partidos políticos e anunciava novas eleições. Em 1945, com o fim da II Guerra, a saída de Vargas tornou-se inevitável, mas não é o caso de tratar disso aqui. O que nos interessa destacar é o legado corporativista que lhe garantiu um mandato como senador, entre 1945 e 1951, e o retorno ao poder nas eleições de 1951. O corporativismo sobreviveu ao suicídio de Vargas, na crise de 1954, e ao golpe ocorrido 10 anos depois. O regime militar se utili- zou de sindicatos patronais e de trabalhadores, dependentes do imposto sindical criado por Vargas e da Justiça do Trabalho, e ainda ampliou a alta burocracia federal, que adotou uma ideolo- gia tecnocrática para legitimar o apoio ao autoritarismo. O corpo- rativismo na buroc racia estatal, com a formação de núcleos de excelência em órgãos públicos e empresas estatais, ganhou ainda mais força com a democratização, graças aos Poderes e direitos adquiridos com a Constituição de 1988. Na verdade, a alta buro- cracia estatal, para manter os privilégios, aliou-se à elite política e fechou os olhos para o clientelismo e o patrimonialismo, quando não incorreu nas mesmas práticas. Isso resultou na acumulação de mordomias, privilégios e altos salários por esses setores, equivalentes aos executivos das empre- sas privadas, ao contrário da grande massa de servidores respon- sáveis diretos pela prestação de serviços à população que tiveram salários aviltados. Parte da crise de financiamento do Estado brasileiro decorre desses privilégios, principalmente, na Previ- dência, que garante aposentadorias com vencimento integral, incorporando gratificações, muito acima do que recebem os traba- lhadores que se aposentam no setor privado. Agora, com a crise fiscal, tudo isso entrou em xeque. (Correio Braziliense, 23/07/2017) 42 Luiz Carlos Azedo