A crise não parece ter fim PD48 | Page 43

verdade, resultou da cisão da burguesia nacional e da ascensão da burguesia industrial ao aparelho do Estado. Na década de 1970, Boris Fausto publicou tese sobre a Revolu- ção de 1930, caracterizada como o resultado do conflito intraoli- gárquico, no qual movimentos militares dissidentes liquidaram a hegemonia da burguesia cafeeira. Em virtude da incapacidade de as demais frações de classe assumirem o poder de maneira exclu- siva, e com o colapso da burguesia do café, abriu-se um espaço vazio que possibilitou o surgimento de um “Estado de compro- misso”, fruto de um grande acordo entre as várias frações de classe e “aqueles que controlam as funções do governo”, sem vínculos de representação direta. No ambiente de radicalização política da década de 1930, que resultou na II Guerra Mundial, embora o Brasil tenha tomado o lado dos Aliados, Vargas flertou com o fascismo de Mussolini. Isso se traduziu no golpe de 1937 e na implantação do chamado Estado Novo, a forma institucional que encontrou para o tal “Estado de compromisso”, a pretexto de combater a ameaça comunista. Ao lado do patrimonialismo e do clientelismo, velhos conhecidos, emergiu no Brasil o corporativismo, consagrado pelo jurista Fran- cisco Campos, na Constituição de 1937. No corporativismo, o Poder Legislativo é atribuído a corporações representativas dos interesses econômicos, industriais ou profissio- nais, por meio de representantes de sindicatos de trabalhadores e patronais, associações de comércio, indústria e agricultura, acade- mias, universidades etc. Conhecida como “Polaca”, a nova Constitui- ção ampliou os poderes de Vargas. A inexistência de um partido que intermediasse a relação entre o povo e o Estado não impediu o dita- dor de construir uma ampla rede de apoio, por meio de mecanismos de controle e da negociação política com os caciques regionais. Além disso, a nova legislação trabalhista, inspirada na Carta Del Lavoro, garantiu o apoio dos sindicatos, até então tratados como caso de polícia. Ao conter o conflito de interesses entre traba- lhadores e empresários, Vargas criou condições favoráveis ao desenvolvimento do setor industrial brasileiro. Foram criadas a Companhia Siderúrgica Nacional (1940), a Companhia Vale do Rio Doce (1942), a Fábrica Nacional de Motores (1943) e a Hidrelétrica do Vale do São Francisco (1945). Entre os novos órgãos criados pelo governo, como o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), que era responsável por controlar os meios de comunicação da época, o novo Departamento Administrativo do Serviço Público O esgotamento da Era Vargas 41