Temer, isto é, das forças que aprovaram o impeachment, se esgota
com as reformas da Previdência e tributária. E a sociedade brasi-
leira não tem um projeto de futuro, caminha para o pleito de 2018
com os olhos no passado.
(Correio Braziliense, 20/07/2017)
Uma porta fechada
Na bolsa do Congresso, cada novo deputado valerá R$ 2,4
milhões na campanha eleitoral de 2018, um senador, R$ 6,7
milhões. Tudo isso com recursos públicos
O esgotamento do modelo nacional-desenvolvimentista baseado
no capitalismo de laços, que entrou em colapso com as revelações
sobre seus mecanismos mais perversos e corruptos pela Operação
Lava-Jato, e o fracasso da política de adensamento da cadeia produ-
tiva nacional têm outra face: a implosão do modelo de financiamento
dos partidos, a partir do uso e abuso do Caixa 2 eleitoral por meio
do desvio sistemático de recursos públicos pelos chamados
“campeões nacionais”, como os grupos Odebrecht e JBS e outros
financiadores de campanha. Isto provocou a atual crise ética.
Este duplo colapso agravou a crise econômica, que se somou à
crise política e nos levou ao impeachment de Dilma Rousseff.
O presidente Michel Temer, que a sucedeu, deu uma resposta rela-
tivamente bem-sucedida à crise econômica, mas não se pode dizer
o mesmo em relação às crises política e ética. Mesmo fragilizado
pelas denúncias de corrupção e pela impopularidade, manteve a
rota das reformas propostas por seu governo como um ciclista que
não pode parar de pedalar para não se estatelar no asfalto.
Este ímpeto reformador, que conta com a adesão das forças
que apoiaram o impeachment em relação à economia, porém,
esbarra na lógica conservadora da reforma política que está sendo
alinhavada no Congresso. Talvez seja este o nó górdio da crise
política e ética, porque as mudanças que estão sendo discutidas
no sistema eleitoral têm o objetivo de salvar os políticos enrolados
na Lava-Jato de uma débacle eleitoral e nada mais. Em conse-
quência, já surgem no Congresso os sintomas mórbidos e patoló-
gicos de uma situação na qual a velha política está morrendo e a
nova ainda não emergiu.
Os mecanismos de financiamento eleitoral criados a partir da
Constituição de 1988 se degeneraram e foram desarticulados pela
Operação Lava-Jato. Agora, precisam ser substituídos. Os caci-
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Luiz Carlos Azedo