jogo agora, se Temer cair? O Ministério Público emprestará sua
colaboração de instituição republicana a uma concertação que
preserve o Estado Democrático de Direito e fortaleça a Constitui-
ção para que a justiça republicana possa trabalhar em terreno
político simpático a um permanente e sustentável combate à
corrupção? Ou manterá performance sollo, surfando na fantasia
faxineira? Caso consiga, com ajuda de veículos eficazes de forma-
ção de opinião, persuadir imediatamente a sociedade, essa
promessa vã faria do Estado Democrático de Direito e da Carta de
1988 vítimas, a médio e longo prazos, de capturas corporativas
por interesses privados ocultos em embalagens demiúrgicas
difundidas por uma instituição de vocação democrática instru-
mentalizada em troca de tolerância ao seu corporativismo.
Se a pinguela realmente cair, torçamos para que quem torceu
ou contribuiu para a sua queda – seja por vingança política ou
por achar que valia a pena para denunciar a corrupção – saiba
chegar a um bom porto nadando em águas turbulentas, pois
estão de volta as que quase nos afogam no ano passado. E torça-
mos, principalmente, para que às águas turbulentas não suce-
dam águas turvas, como as de um passado autoritário e também
corrupto que nós e nossos filhos não merecemos que volte para
nos afogar de verdade e não só nas narrativas dos que chamam
de golpe, ou de crime continuado, o ensaio de transição desse
último ano. Ele deu lugar a que espíritos politicamente informa-
dos e animados, mas não contaminados pela lógica binária que
nos afundou na crise, vislumbrassem, nas idas e vindas do ensaio,
o possível retorno da política por vocação, a que cultua valores
mas, realista, também se dirige ao público como nas palavras de
Max Weber: “eis-me aqui, não posso fazer de outro modo”.
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Paulo Fábio Dantas Neto