tico, em caso de um governo Temer II teria que ser abandonada
completamente. O governo provavelmente não seria mais tão forte
no Congresso, pois algumas das defecções, como a do PSB, não
parecem reversíveis, a curto prazo. Tenderiam a aumentar os
problemas internos em cada bancada partidária, o que forçaria o
governo a fazer uso mais pródigo da caneta administrativa para
abrir mais espaços a velhos e novos aliados e da tesoura política
para abrandar ainda mais a reforma de Previdência. Surgiria aí
uma nuvem: até que ponto o ministro Meireles sustentaria o apoio
de agentes econômicos a um recuo relevante nessa área? Mais um
fator que aconselharia a tentar um armistício com a suposta
vontade geral. Por outro lado, um maior abrandamento da reforma
previdenciária poderia desarmar parte do petardo armado contra o
governo no último dia 17 de maio. Mesmo se a PF seguisse inflexí-
vel, talvez o bateu/levou perdesse adeptos no interior do MP. Ainda
mais se incluída na pauta de negociações a troca do seu comando.
Concluída a digressão sobre cenários tateados na penumbra
atual, voltemos ao MP e ao fator Janot. A mesma penumbra não
permite que já se saiba agora se a instituição sairá desgastada ou
fortalecida, após a arriscada operação em que a meteram. Se
aparentemente faltam ao procurador-geral da República (como de
resto aos seus até aqui explícitos parceiros de operação) preten-
sões jacobinas, o que então o animou a tanto? Talvez não caiba,
por inútil, essa especulação, típica de redes sociais e que nos
levaria aos limites do insondável, ou do insólito, como a de supor
que ele tivesse a veleidade de oferecer, no curso ainda do seu
mandato, ocasião para um bombástico grand finale da Lava-Jato:
a entrega da cabeça de Temer e seu governo para o regozijo de
madalenas que desejem ver inerte a geni apedrejada e com isso se
contentem. E também para o sossego de agentes econômicos que
receiam o tipo de impacto que vinha sendo previsto a respeito da
delação do ex-ministro Palocci. Mas ainda que quisesse, a cúpula
da PGR poderia dar essa pirueta só em acerto com os veículos da
vontade geral/global e sem combinar isso em sua casa e também
com Moro, Fachin e o STF? Não se negue a esses interlocutores
institucionais um derradeiro voto de confiança.
Uma vacina contra teorias conspiratórias agiria no sentido de
considerar que, tanto ou mais que a vontade dos atores, mesmo
dos mais poderosos e influentes, estão envolvidas nessa operação,
por mais heterodoxa que ela tenha sido, razões de legítima natu-
reza institucional. Mas o exercício especulativo sobre o que moveu
a ousadia e a agressividade do procurador-geral (ou a de quem ele
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Paulo Fábio Dantas Neto