governo Temer for mesmo o desfecho deste grave momento crítico?
Se assim for, o presumido drible no Poder Judiciário (ou a insólita
cooptação de quadros seus), bem como o desmonte de um Execu-
tivo que agia construtivamente em consórcio com o Legislativo
imobilizariam, na prática, os poderes moderadores reais de que se
dispõe para levar o país a um porto mais seguro até as eleições de
2018. Nada é certo, pois é missão da política desmanchar pratos
feitos e achar soluções quando parece sofrer xeque-mate. Mas, no
mínimo, fomos mergulhados, de novo, na incerteza e, se a pinguela
cair, a disputa do poder tornado mais provisório queimará nas
mãos de um Legislativo solteiro e alvo de contestação pública.
Entendimentos de bastidores que, logicamente, seriam necessários
para cumprir a tarefa levariam a uma solução melhor, em termos
de confiabilidade social e eficácia política, do que a do arranjo
montado para o governo Temer? Suspeito que não.
Ou será que a solução passaria por apagar as luzes dos basti-
dores congressuais e transferir a disputa para urnas também
carentes de luzes e premidas pelas urgências da crise? Ela tem
chance de se resolver numa eleição direta travada sob desordem
econômica refundada e sabe-se lá que casuísmos políticos de
urgência? Será como montar arenas para claques movidas a ódio
e para raposas e/ou outsiders movidos a demagogia, quando o
encontro da solução requer uma racionalidade política e econô-
mica que só medra quando conflitos são mediados, condição que
há três anos não temos plenamente, mas da qual voltamos agora
a nos distanciar mais.
Fora dessas hipóteses, há a do aumento do protagonismo judi-
ciário, não à toa a preferida das organizações Globo, mas também
até mais benigna, do ponto de vista de evitar, a curtíssimo prazo,
um esgarçamento ainda maior das instituições democráticas para
o qual a campanha de desestabilização da mesma Globo já contri-
bui bastante. Mas o que esta solução supostamente moderada nos
apontaria, como ponte para 2018? No mínimo a perda mais acen-
tuada, pelo Judiciário, do seu já arranhado papel como instância
arbitral, em face do envolvimento direto de alguém seu na gestão
do governo em período de crise e pré-eleitoral. O prejuízo institu-
cional só não seria maior que o desastroso uso simbólico da
Justiça por um quadro dela migrado para o âmago de uma polí-
tica demagógica que não ousa dizer seu no me.
Opção menos insólita e menos radical – embora se constitua
também em precedente perigoso – seria o protagonismo judiciário
ater-se a assegurar uma curtíssima interinidade para convocar o
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Paulo Fábio Dantas Neto