gante ainda é que, no cumprimento da agenda do ministro-relator,
o levantamento do sigilo de um processo que continha fatos que já
haviam virado notícia levou mais tempo do que a grave decisão de
autorizar a investigação formal da pessoa do presidente da Repú-
blica. É intuitiva a conclusão de que a parte da opinião pública que
pede assepsia para já, além de pautar, via mídia, os movimentos do
Ministério Público, também exerce influência sobre decisões toma-
das no âmbito do STF, mesmo quando estão em jogo delicadas rela-
ções institucionais. O STF não transpareceu na cena com o prota-
gonismo supremo que dele se espera em situações nas quais uma
deliberação sua repercute fortemente na grande política.
O lastro social para tão espaçosa e perigosa incursão do MPF
e da Polícia Federal no âmago da grande política provém da
recente legitimação social da vocação de órgãos policiais para
ocupar o lugar de justiceiros e da também recente adesão do
comando do MPF à imagem do santo guerreiro, que já era aberta-
mente assumida pelos mais conspícuos membros da corporação
no âmbito da Lava-Jato. À diferença do juiz Sergio Moro, cuja
moderação judicial aprimora-se à medida em que a operação
entra num momento que exige também maiores sensibilidade e
responsabilidade políticas, os procuradores de Curitiba seguem
pregando, obstinadamente, com retórica plebiscitária, o reconhe-
cimento da Lava-Jato como guardiã plenipotenciária da ética
republicana e, como tal, ocupante do lugar de mais relevante e
virtuosa instituição nacional. A este figurino e a este programa
adapta-se, paulatinamente, a conduta prática do procurador-geral
da República, por decisão própria ou por livre e espontânea pres-
são exercida por setores de um quadro corporativo que ele parece
não liderar a contento.
O chefe do MPF agiu à base do bateu/levou, método que já
vinha testando, sem que outras autoridades da República se
expusessem ao risco de serem censuradas pelo senso comum por
apontarem em público e interpelarem, republicanamente, a
ousada esgrima praticada em final de mandato pelo mais alto
prócer de uma instituição relevante. Houve, é claro, a conspícua
exceção do ministro Gilmar Mendes. Porém, suspeito de parciali-
dade pelos imparciais e odiado por ambas as turmas que se digla-
diam em redes sociais, não pôde se fazer ouvir o bastante na
República emparedada pelo maniqueísmo. Parece estar perdendo
a parada, no STF e fora dele.
O dr. Janot moveu-se como um Deodoro sem farda. Que ordem
política se espera ver brotar dos escombros da atual, se a queda do
Interrogações sobre o fator Janot e o desfecho do governo Temer
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