tos Cadernos de tradução. 1 Mas, não podendo fazer uma descrição
articulada destas novidades, remeto ao ensaio introdutório de meu
livro Modernidades alternativas. O século XX de Antonio Gramsci.
O ensaio, intitulado “Os estudos gramscianos hoje na Itália”,
contém uma comparação sintética das diferenças entre os modos
pelos quais era interpretado Gramsci entre os anos 60 e 80 do
século passado, e os desenvolvimentos de uma nova leitura.
A descontinuidade é fruto de um grande trabalho de recuperação
das fontes – antes de tudo, as cartas – e do aperfeiçoamento do
método diacrônico no estudo de seu pensamento, realizados por
estudiosos que colaboram com a Fundação Gramsci e com a IGS
[International Gramsci Society] há cerca de trinta anos.
Nos últimos dez anos, os estudos gramscianos ganharam novo
fôlego, após um recuo na década de 1990, com a publicação da
Edição Nacional dos Escritos de Antonio Gramsci. Qual a impor-
tância desta publicação?
A Edição Nacional, encaminhada no início dos anos 90, favoreceu
a formação de uma nova geração de estudiosos que compartilham o
método diacrônico na leitura dos Cadernos e interpretam o pensa-
mento de Gramsci reconstruindo seus nexos com a história europeia
e mundial do século XX. Os Cadernos do cárcere são publicados
segundos novos agrupamentos – Cadernos de tradução, Cadernos
miscelâneos, Cadernos especiais –, oferecendo ao leitor a temporali-
dade mais fiel àquela em que foram escritos. As cartas são publicadas
com as dos correspondentes e, ao lado do Epistolário gramsciano,
reunimos em dois volumes a correspondência entre Tatiana Schucht
[a cunhada russa que lhe prestou assistência nos anos de cárcere] e
Piero Sraffa [o economista que servia de elo com o PCI], bem como
entre as famílias Schucht (em Moscou) e Gramsci (na Sardenha). Os
escritos são republicados em ordem cronológica depois de um acurado
exame das atribuições precedentes que nos permitiu inúmeras atri-
buições e “desatribuições”. Acrescenta-se uma seção de Documentos,
em que já foi publicada a apostila que contém os apontamentos do
Curso de Glotologia, de Matteo Giulio Bartoli, feitos por Gramsci no
ano acadêmico de 1912-1913, fundamental para o estudo de sua
formação. Portanto, a Edição Nacional é a primeira edição crítica inte-
gral dos escritos de Gramsci tratados com critérios exclusivamente
filológicos e segundo o método histórico, sem sugerir nenhuma inter-
1
A coleção Brasil & Itália também publicou o mais abrangente estudo sobre os
anos de formação: Leonardo Rapone, O jovem Gramsci. Cinco anos que parecem
séculos, 1914-1919.
O século XX de Antonio Gramsci
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