tendencial empobrecimento das classes médias, verdadeiro fulcro da
democracia ocidental. Diante de tudo isto continua a me surpreen-
der que a exigência de maior equidade ainda não tenha suscitado
protestos sociais que era legítimo esperar.
Será talvez ainda cedo?
A questão é que as sociedades hoje são muito corporativas e,
portanto, custa-nos imaginar um bloco social e político que
levante a questão de uma igualdade maior. Vejo um fenômeno que
implica diminuição de igualdade mas não vejo os sentimentos de
protesto e contestação, que permanecem limitados e marginais
ou então se expressam sob a forma de populismos.
E que tipo de forma social são os populismos?
Primitivos. Ilusórios. A ideia de que seja suficiente conquistar
parcelas de soberania nacional para melhorar a vida das pessoas
é uma miragem. No mundo de hoje, o primado dos Estados indi-
viduais está limitado por uma série de forças que não se deixam
desafiar pelo poder de cada um deles. A única forma possível de
resistência e de reforma, a única resposta positiva aos processos
de globalização é supranacional.
A única resposta é a Europa?
O tema de uma governance global continua a ser um grande
tema, mas muito distante de nós. A Europa é uma resposta, por
certo. O processo de integração europeia nasce como recusa às
guerras entre Estados-nação que marcaram a história do século
XX. A isto se soma a consciência de que só uma grande área
supranacional em termos econômicos, democráticos e produtivos,
pode sustentar a globalização.
O problema são os líderes?
Os líderes são o espelho da sociedade. A questão é que não se
criou um espaço político legitimado e aceito por todos. O nível
nacional continua a ser mais forte e isto determina tensões contí-
nuas entre cada Estado e a Europa. Acrescentemos que, em
tempos de crise, com a Europa frágil, o populismo com sua carga
de ilusões encontra uma porta aberta.
Gramsci, encerrado numa cela, entreviu nossos dias: nos
Cadernos falou de mundialização da economia contraposta à
nacionalização da política. É impressionante.
O Gramsci que fala sobre nós
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