A crise não parece ter fim PD48 | Page 201

Oitenta anos depois
Luiz Sérgio Henriques
Dois mil e dezessete é um “ ano gramsciano ”, por marcar o octogésimo aniversário da morte do pensador sardo , em 1937 . Não é de hoje sua presença no debate político e na produção acadêmica brasileira . Uma presença que não é unívoca nem tem a mesma valoração por parte de todos os que se inspiram em maior ou menor medida nos textos daquele pensador .
Nossa perspectiva – democrática e reformista – é uma das formas de acolher seu complexo legado . Sem a menor pretensão de qualquer monopólio ou ortodoxia , temos um objetivo “ simples ” e direto : pôr Gramsci a serviço da democracia brasileira .
Acolhemos a ideia de historicizar radicalmente os escritos do pensador , relacionando-os às diferentes circunstâncias em que foram produzidos – circunstâncias que inauguram nosso tempo , mas não são nem podem ser exatamente as mesmas aqui e agora . E tudo sem censuras , cortes ou embelezamentos .
Certamente , este é um pressuposto da apropriação crítica , e não doutrinária , do autor , tornando-o apto a ajudar na compreensão de nossos problemas . Frases soltas ou conceitos descontextualizados têm assim validade muito restrita , ainda que possam ressaltar o brilho do escritor . Mas , como dissemos , nosso objetivo é de outra natureza .
Na primeira parte deste Dossiê , reunimos três referências internacionais na área . Na abertura , Silvio Pons , atual presidente da Fundação Gramsci , em Roma , e sucessivamente Francesco
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