Retrato poético do escritor
mineiro Rosário Fusco
Vladimir Carvalho
É
compreensível e até elogiável o indisfarçável orgulho e a
incontida euforia com que o poeta Ronaldo Werneck, depois
de promessas e negaças, nos regala agora com esse recém-
-saído Sob o signo do imprevisto, fascinante perfil-síntese de Rosá-
rio Fusco, o lendário escritor mineiro, cuja obra e história de vida
passaram em grande parte ignoradas pelo público leitor brasileiro.
Fato que Millôr Fernandes classificava como “vergonha nacional”
ao comentar o aparecimento do seu romance Carta à noiva, em
1954, por ele considerado uma obra-prima. E olha que o irreverente
e judicioso escritor e humorista não era de rasgar sedas à toa nem
de incensar com elogios fáceis quem quer que fosse.
Poeta militante, da geração de Waly Salomão e Geraldinho
Carneiro, Werneck deita e rola perfilando o autor de O viúvo.
O pequeno livro, que não alcança as 150 páginas, é fruto da
intensa amizade que durou 10 anos até o final de vida do roman-
cista e até onde Werneck foi testemunha afetiva e ocular desse
canto de cisne. Dessa relação de mestre e discípulo, decantada
pelo tempo, resultou um feliz mosaico rápido no estilo e essencial
no conteúdo e na informação acerca do meninão-gênio de Cata-
guases, enfant terrible que, aos 17 anos, assombrava os seus
camaradas da revista Verde, que o viam como “um vulcão” pela
espantosa energia e espírito que esbanjava, escrevendo, ilus-
trando e diagramando o magazine cultural.
A publicação interiorana surgiu em 1927, no rastro da Semana de
Arte Moderna de 1922, como é sabido, e logo colocou Cataguases no
mapa do modernismo, merecendo as bênçãos dos cardeais Mario de
Andrade e Oswald de Andrade. A esses e a outros, por meio de atrevi-
das cartas, o rapazola pedia colaboração, o que logo se consumou
inclusive com a publicação de um capítulo inédito do Macunaíma, de
Mário. Isso tudo acontecia sob a solene indiferença da comunidade,
que se lixava para aquelas “maluquices” da rapaziada.
Doutor em ironia
Seguiu-se, entretanto, a adesão de vários outros, então já
admitidos nos escaninhos da literatura, como foi o caso de Carlos
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