A crise não parece ter fim PD48 | Page 197

Retrato poético do escritor mineiro Rosário Fusco Vladimir Carvalho É compreensível e até elogiável o indisfarçável orgulho e a incontida euforia com que o poeta Ronaldo Werneck, depois de promessas e negaças, nos regala agora com esse recém- -saído Sob o signo do imprevisto, fascinante perfil-síntese de Rosá- rio Fusco, o lendário escritor mineiro, cuja obra e história de vida passaram em grande parte ignoradas pelo público leitor brasileiro. Fato que Millôr Fernandes classificava como “vergonha nacional” ao comentar o aparecimento do seu romance Carta à noiva, em 1954, por ele considerado uma obra-prima. E olha que o irreverente e judicioso escritor e humorista não era de rasgar sedas à toa nem de incensar com elogios fáceis quem quer que fosse. Poeta militante, da geração de Waly Salomão e Geraldinho Carneiro, Werneck deita e rola perfilando o autor de O viúvo. O pequeno livro, que não alcança as 150 páginas, é fruto da intensa amizade que durou 10 anos até o final de vida do roman- cista e até onde Werneck foi testemunha afetiva e ocular desse canto de cisne. Dessa relação de mestre e discípulo, decantada pelo tempo, resultou um feliz mosaico rápido no estilo e essencial no conteúdo e na informação acerca do meninão-gênio de Cata- guases, enfant terrible que, aos 17 anos, assombrava os seus camaradas da revista Verde, que o viam como “um vulcão” pela espantosa energia e espírito que esbanjava, escrevendo, ilus- trando e diagramando o magazine cultural. A publicação interiorana surgiu em 1927, no rastro da Semana de Arte Moderna de 1922, como é sabido, e logo colocou Cataguases no mapa do modernismo, merecendo as bênçãos dos cardeais Mario de Andrade e Oswald de Andrade. A esses e a outros, por meio de atrevi- das cartas, o rapazola pedia colaboração, o que logo se consumou inclusive com a publicação de um capítulo inédito do Macunaíma, de Mário. Isso tudo acontecia sob a solene indiferença da comunidade, que se lixava para aquelas “maluquices” da rapaziada. Doutor em ironia Seguiu-se, entretanto, a adesão de vários outros, então já admitidos nos escaninhos da literatura, como foi o caso de Carlos 195