tura. O grupo era tão influente que chegou mesmo a ter seu
próprio jornal, considerando a importância de um veiculo diário
desse no final dos anos 1950.
Galba Gomes foi aluno do professor Parsifal, no Liceu do Ceará
e não sai da mente do jovem em formação aquela imagem de esta-
tura mediana vestido sempre em conjunto de linho branco com
um cinto preto delimitando os dois hemisférios do corpo humano.
Era Chico Monte a quem conheceu em seu casarão assentado na
zona urbana da cidade de Sobral. Estava acompanhado do pai
Deusdedit, grafado assim mesmo. Galba informa que “esta orto-
grafia ele explicava ser de origem latina: “dado por Deus”. Pois seu
pai era militante de carteirinha do Partido Trabalhista Brasileiro,
cujo chefe naquelas bandas era Chico Monte.
Galba faz o valioso relato a seguir:
Chico Monte era um poderoso e destemido “coronel”, que
nomeava e demitia delegados, coletores. Se duvidassem, até o
padre, pois tinha ligações com o inflexível Dom José Tupi-
nambá da Frota. Subi, algumas vezes, o sobrado do Chico
Monte, na cidade de Sobral. Ficava impressionado com a
postura dele, num dos lados do amplo salão contornado com
cadeiras de palhinha, a receber os correligionários e ouvir seus
pedidos e queixas, individualmente.
Quando meu pai visitava a capital cearense, ou ia a Sobral,
sempre levava para casa jornais e revistas. Era ele um homem
alegre, mas sério e muito rígido com as normas disciplinares,
trabalhador, gostava muito de ouvir rádio, esse objeto era
considerado um artigo de luxo naquele tempo.
O rádio era uma diversão rara para uma cidade onde a energia
elétrica ainda era de difícil acesso, ela surgia apenas à noite
entre seis e nove horas, após esse horário só existia iluminação
se fosse à base de lamparinas movidas a gás.
Mas, por que estou falando tudo isso sobre Galba Gomes?
Simplesmente porque ele escreveu um livro dando forma física à
sua memória, eternizando-a. Sem esse desiderato, certamente
toda a contribuição de Galba à história se dispersaria nos gases
do ocaso da chama. Seu livro é uma viagem passional no túnel do
tempo dessa história que marcou tantas gerações e cujo epicentro
sísmico é 1968 com danos colaterais que se estenderiam até 1985.
Ele relata sua convivência com os companheiros trotskistas
contemporâneos, as agruras da convivência com um regime de
exceção em fatos traumáticos como a invasão da Faculdade de
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Luis-Sérgio Santos