A crise não parece ter fim PD48 | Page 191

1968, antes e depois; danos colaterais e história Luis-Sérgio Santos A geração de Galba Gomes é aquela que, simultaneamente aos protestos estudantis de 1968 em Paris, que cobriam a cidade de um clima tenso e sombrio, fazia passeata pelas ruas de Fortaleza, nas cercanias do Curso de Odontologia, no centro da cidade, e na longitudinal Avenida da Universidade cujo ponto de convergência era a Reitoria da Universidade do Ceará. O móvel, lá e cá, era o mesmo, ampliação dos direitos civis mas, principalmente, respeito ao que já se havia conquistado, ameaçados de retrocesso. No Brasil, vivia-se uma conjuntura adversa, com a ameaça institucional consumida pelo golpe de Estado de 1964. A ruptura sob a promessa de retomada da demo- cracia no ano seguinte, com eleições gerais, foi um canto de sereia para a classe média. A partir de então, viu-se o agravamento do estado de forças, a cessão e a cassação de direitos políticos e direitos civis, o prenún- cio do “prendo e arrebento” e a noite mais sombria, a decretação do AI-5, em dezembro de 1968, na tenebrosa sexta-feira, 13. A data não poderia ser mais emblemática e um manto de névoa escura se abateu sobre o Brasil. É nesta conjuntura, imediatamente anterior, que Galba Gomes iniciava sua militância na política estudantil ocupando funções intensas no Centro Acadêmico e no Diretório Central dos Estu- dantes e ampliando uma pulsão incontida germinada nos bancos do Liceu do Ceará. O germe da política não era acidental. Ele foi fermentado já a partir de Coreaú, berço natal de Galba Gomes, na área de influên- cia do carismático arcebispo dom José Tupinambá da Frota e do emblemático Chico Monte, um político de Sobral, centro de poder a partir do qual aquela pequena vila do adolescente Galba orbi- tava. Chico Monte foi deputado federal e, mais que isso, foi homem influente no governo de Parsifal Barroso. Sua filha, dona Olga Monte Barroso era a primeira dama do Estado e, segundo litera- tura da época, referendada por Sebastião Nery, era tão ou mais poderosa que o governador, este, um intelectual de grande esta- 189