A crise não parece ter fim PD48 | Page 189

classes populares de diversos países e que se iniciou na década de 1930. Aggio contrapõe recortes analíticos de diferentes pensa- dores sobre o “fenômeno” populista; desde aqueles que considera- ram o desafio da busca por um “tipo ideal” de populismo até os que desenvolveram diferentes subclassificações. A conclusão é de que mais que um conceito, o populismo assumiu a função de uma verdadeira “teoria explicativa” das sociedades latino-americanas, uma que permitiria a compreensão dos intrincados caminhos que trilhou a modernidade na nossa fração do continente (p. 43). De teoria explicativa para os grupos de intelectuais que acei- taram o desafio de interpretar e compreender a América Latina a expressão pejorativa e pejorativizante nos veículos de informação de massa, o populismo na visão do autor não seria mais que um construto, um rótulo sob o qual agruparam-se as diversas moda- lidades de “revolução passiva” que promoveram avanços econômi- cos bem como uma certa modernização política. Este é um livro fundamental para entendermos o conceito de revolução passiva aplicado às sociedades latino-americanas, e também para a compreensão da matriz gramsciana que perpassa todo o trabalho de Aggio. Os processos de emancipação das socie- dades latino-americanas realizaram-se com forte inclinação para os valores políticos da “ocidentalização”, porém sem certas características – como a existência de um antigo regime e a confrontação de velhas e novas elites, assim como a nossa situa- ção de dependência externa (p. 66-67). Neste contexto, o Estado latino-americano assumiu funções muito peculiares, fabricando de cima a classe dirigente e impulsionando as mudanças sociais. Assim, em oposição a uma burguesia frágil e desarticulada, surge uma atuante camada de intelectuais que, vinculadas a este Estado funcional, exerce um papel preponderante nas tran- sições decisivas da sociedade (p. 71). De fato, se comparada a outras localidades, a opinião pública da América Latina sempre conferiu um papel de destaque aos intelectuais e aqui, como em poucos lugares, os intelectuais não se limitam ao engajamento e à militância, mas se constituem em autênticas lideranças polí- tico-sociais (p. 192). Acreditamos que em nosso momento de efervescência política Um lugar no mundo constitui obra de caráter fundamental para uma compreensão ampla e livre de equívocos da realidade que enfrenta o Brasil. Quando Aggio fala em “antirrevolução passiva”, descrevendo-a como “[...] processos de antagonização às formas anteriores de integração e articulação político-social, movido e História política, modernidade e revolução passiva na América Latina 187