“A América Latina nasceu com a modernidade e se vinculou à
sua dinâmica histórica, suas crises e destino” (p. 23). Esta situa-
ção transformou a Europa do século XIX num referencial para a
América Latina, assim como engendrou uma persistente atitude
antieuropeia. Foi após a segunda guerra mundial que o modelo
norte-americano passou a exercer influência e mesmo um poder
excessivo nas sociedades latino-americanas, suplantando defini-
tivamente o europeu tanto na adesão quanto no rechaço.
“O que o autor sinaliza é que há, hoje em dia, uma potencial
reorientação que favorece o modelo oriental – dado o deslocamento
do eixo econômico para o Pacífico – mas salienta que a capaci-
dade, digamos, da China, em promover uma interação cultural é
muito limitada (p. 23).
Há um equivoco generalizado que ganhou força em algumas
correntes de análise da segunda metade do século XX: o de se
atribuir à influência das grandes nações imperialistas a inteira
responsabilidade pelos problemas da América Latina. Isto tira da
equação o poder decisório dos povos latinos, assim como descon-
sidera as peculiaridades e o peso de suas dinâmicas internas. É
justamente na contramão deste tipo de análise que Um lugar no
mundo segue sua trilha investigativa, tentando ler os fenômenos
únicos gestados pelos povos latinos como expressões de suas
escolhas, de sua cultura política e da singularidade de seus siste-
mas democráticos. A modernidade na América Latina foi cons-
truída à sua própria maneira, mas não se pode negar que um dos
maiores defeitos dessa construção é a fratura entre democracia
política e democracia social (p. 26).
É sobre uma dessas construções singulares da modernidade
latino-americana que se debruça o primeiro capítulo do livro: o
fenômeno a que se convencionou chamar populismo. Sua emer-
gência nesta parte do continente é vista como um traço marcante
de nossa expressão democrática, e suas peculiaridades estão
ligadas às peculiaridades de um outro conceito que noutras partes
(i.e. Europa, América do Norte e mesmo Ásia) teve uma conotação
distinta: o de “massas”. Na América Latina o termo “massas” é
vestido de uma acepção antes política que social: “‘Massas’, na
América Latina, aparece, quase que generalizadamente, como a
identificação discursiva de elementos sociais em estado de
confrontação com a ordem política estabelecida” (p. 33).
“Populismo” foi o nome que se deu à expressão política do
movimento modernizador que integrou parcelas significativas das
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Bruno Cesar Cursini