A crise não parece ter fim PD48 | Page 184

dades? Mais concretamente, o confronto entre o capital e o traba- lho não estaria dividindo o espaço no palco com a cultura e as questões de ordem comportamental? Tudo isso não poderia ser um sintoma da desagregação da sociedade de classes? Talvez valha acompanhar de perto esse processo pelo que ele tem de novo e potencialmente inovador. • A trajetória da cultura – e o mesmo pode ser constatado em relação à democracia – atravessa o sistema de classes sociais. Ou seja, não é monopólio de ninguém e muito menos de classe alguma. Pois a cultura se compõe de um conjunto de práticas tão extenso, intrincado e complexo que não pode ser reivindicado ou reduzido a nenhum setor social. Tomemos o caso do Direito romano, elaborado há dois mil anos. Uma de suas grandes conquistas, o habeas corpus, protege o indivíduo do poderio avas- salador do Estado. E isso, evidentemente, é muito anterior à formação das classes sociais modernas, como a burguesia e o proletariado fabril. Neste sentido, tanto a cultura quanto a própria democracia não se apresentam apenas como práticas portadoras de um valor de caráter universal para os tempos atuais. Vale dizer, elas resultam de uma experiência incrustada no próprio núcleo do processo civi- lizatório erguido pelos homens. Um patrimônio que sai do fundo da História, palmilhando diferentes épocas e lugares, com base nas lutas, anseios e saberes de todos os povos sem exceção. Unidos como os dedos das mãos, cultura e democracia são os símbolos maiores da marcha da Civilização. São valores do Humanismo. 182 Ivan Alves Filho