dades? Mais concretamente, o confronto entre o capital e o traba-
lho não estaria dividindo o espaço no palco com a cultura e as
questões de ordem comportamental? Tudo isso não poderia ser
um sintoma da desagregação da sociedade de classes? Talvez
valha acompanhar de perto esse processo pelo que ele tem de
novo e potencialmente inovador.
• A trajetória da cultura – e o mesmo pode ser constatado em
relação à democracia – atravessa o sistema de classes sociais. Ou
seja, não é monopólio de ninguém e muito menos de classe
alguma. Pois a cultura se compõe de um conjunto de práticas tão
extenso, intrincado e complexo que não pode ser reivindicado ou
reduzido a nenhum setor social. Tomemos o caso do Direito
romano, elaborado há dois mil anos. Uma de suas grandes
conquistas, o habeas corpus, protege o indivíduo do poderio avas-
salador do Estado. E isso, evidentemente, é muito anterior à
formação das classes sociais modernas, como a burguesia e o
proletariado fabril.
Neste sentido, tanto a cultura quanto a própria democracia não
se apresentam apenas como práticas portadoras de um valor de
caráter universal para os tempos atuais. Vale dizer, elas resultam
de uma experiência incrustada no próprio núcleo do processo civi-
lizatório erguido pelos homens. Um patrimônio que sai do fundo da
História, palmilhando diferentes épocas e lugares, com base nas
lutas, anseios e saberes de todos os povos sem exceção. Unidos
como os dedos das mãos, cultura e democracia são os símbolos
maiores da marcha da Civilização. São valores do Humanismo.
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Ivan Alves Filho