A crise não parece ter fim PD48 | Page 180

• As mudanças provocadas de fora para dentro costumam ser mais rápidas do que aquelas que se processam apenas no âmbito interno. É pelo menos o que a trajetória da cultura parece demons- trar para nós. • Estudos recentes na área das neurociências comprovam que estímulos de fora – de corte ambiental ou social – provocam modi- ficações na rede neural dos indivíduos. E o que é mais interes- sante: essas "marcas" podem ser transmitidas para outras gera- ções. Ficaria estabelecida assim a existência de um tipo de DNA da alma. Evidentemente, as descobertas das neurociências abrem perspectivas extraordinárias para as pesquisas históricas e culturais. Agora a interdisciplinaridade integra oficialmente o nosso DNA. • Em discurso pronunciado no Palácio dos Esportes de Berlim, em 1935, o chefe nazista Adolf Hitler declarou que "qualquer ativi- dade humana e social está justificada se contribuir para preparar a guerra". Que isso sirva para lembrar que nem sempre a Civiliza- ção se apresenta com a solidez que atribuímos a ela. Creio que foi o que Karl Marx quis dizer ao nos alertar para o fato de que tudo que era sólido desmanchava no ar. Zigmund Bauman aprofundou essa questão em seus estudos sobre a modernidade líquida. Pelo visto, líquido e sólido também são estados de Civilização. • A cultura humanística, sozinha, não dá conta da luta contra a barbárie. É preciso que as instituições democráticas venham em seu socorro. Quando essas instituições naufragam é que se dá o predomínio da barbárie. O caso da Alemanha, na primeira metade do século XX é dolorosamente exemplar. Muitos se inda- gam ainda hoje como um país tão culto sucumbiu à boçalidade e à brutalidade hitleristas. Mas talvez devêssemos indagar também como um país igualmente culto como a Inglaterra evitou, à mesma época,cair no canto da sereia do total