• As mudanças provocadas de fora para dentro costumam ser
mais rápidas do que aquelas que se processam apenas no âmbito
interno. É pelo menos o que a trajetória da cultura parece demons-
trar para nós.
• Estudos recentes na área das neurociências comprovam que
estímulos de fora – de corte ambiental ou social – provocam modi-
ficações na rede neural dos indivíduos. E o que é mais interes-
sante: essas "marcas" podem ser transmitidas para outras gera-
ções. Ficaria estabelecida assim a existência de um tipo de DNA
da alma. Evidentemente, as descobertas das neurociências abrem
perspectivas extraordinárias para as pesquisas históricas e
culturais. Agora a interdisciplinaridade integra oficialmente o
nosso DNA.
• Em discurso pronunciado no Palácio dos Esportes de Berlim,
em 1935, o chefe nazista Adolf Hitler declarou que "qualquer ativi-
dade humana e social está justificada se contribuir para preparar
a guerra". Que isso sirva para lembrar que nem sempre a Civiliza-
ção se apresenta com a solidez que atribuímos a ela. Creio que foi
o que Karl Marx quis dizer ao nos alertar para o fato de que tudo
que era sólido desmanchava no ar. Zigmund Bauman aprofundou
essa questão em seus estudos sobre a modernidade líquida. Pelo
visto, líquido e sólido também são estados de Civilização.
• A cultura humanística, sozinha, não dá conta da luta contra
a barbárie. É preciso que as instituições democráticas venham
em seu socorro. Quando essas instituições naufragam é que se dá
o predomínio da barbárie. O caso da Alemanha, na primeira
metade do século XX é dolorosamente exemplar. Muitos se inda-
gam ainda hoje como um país tão culto sucumbiu à boçalidade e
à brutalidade hitleristas. Mas talvez devêssemos indagar também
como um país igualmente culto como a Inglaterra evitou, à mesma
época,cair no canto da sereia do total