A crise não parece ter fim PD48 | Page 178

Notas Culturais II
Ivan Alves Filho
Em 2003 , nesta mesma Política Democrática , publiquei umas Notas Culturais , às quais dou prosseguimento neste número .
• A forma – e não apenas o conteúdo – é portadora de toda uma concepção de mundo . Tanto o surgimento da perspectiva quanto o da profundidade de campo , por exemplo , devem muito às grandes navegações e às chamadas descobertas , que ampliaram significativamente o espaço de visão do homem . A pintura do Renascimento é prova disso . Na arquitetura , verifica-se algo semelhante , com as catedrais góticas apontando suas torres para o céu , cutucando as estrelas , à procura do infinito .
• A teoria não é capaz de oferecer , por si mesma , solução para os problemas que ela levanta . Este seu grande paradoxo : as questões teóricas possuem uma raiz prática . Sistema doutrinário algum substitui a experiência . A realidade é sempre o ponto de partida e ela prima sobre qualquer conceito – ainda que não o dispense . Assim , é preciso partir do real e , uma vez este abstraído , retornar à própria realidade , enriquecendo-a desta feita . Não há outra maneira de fazer com que a teoria se torne um instrumento de fato útil ao conhecimento .
• De maneira geral , a atividade cultural tem diversificado seu campo de criação e pesquisa . Mas é preciso cautela diante de uma tendência a uma certa especialização que pode gerar ignorantes de um novo tipo , ou seja , sem cultura geral e a necessária abrangência .
• É possível ir além do seu tempo em muitas áreas do conhecimento e da ação . Mas não em todas . É o que explica muitas lideranças políticas progressistas expondo posições atrasadas em relação à atividade cultural . E também muitos criadores talentosos marcarem o passo diante da política .
• As massas populares vivem de tal maneira esmagadas que dá para entender porque consideram que a cultura não tenha lá grande utilidade para elas . Já se observou que a cultura não é vista pelas massas como uma ajuda concreta em sua prática diária . No máximo , elas encaram a produção cultural como uma
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