A crise não parece ter fim PD48 | Page 177

seu nome: Cineasta Humberto Mauro. Mas não dá um passo e cai, fulminado. Ali mesmo, sem ver pela última vez a luz da Mata Mineira em sua plenitude – foco de sua paixão, paisagem enqua- drada à vida inteira. Minas na memória. Exterior. Dia. Para sempre. No Centro Cultural Humberto Mauro, em Cataguases (Rua Coronel Vieira, nº 10), a Fundação Ormeo Junqueira Botelho mantém um Memorial onde se toma contato com o mundo de Humberto Mauro. Ali – na cidade-ícone do modernismo no inte- rior mineiro, que conta com grande escultura de Amilcar de Castro em homenagem a Mauro – encontram-se fotos, textos e troféus dispostos nos vários painéis, onde são exibidos dez peque- nos filmes que realizei, focalizando a trajetória do cineasta. Autodidata, e um curioso por excelência – que dizia ser o cinema “cachoeira”, movimento – Humberto Mauro não se conten- tava em saber como este mundo se movia: queria mesmo era movê -lo. Em sua Histoire du Cinéma, o crítico francês Georges Sadoul cita Ganga Bruta, de 1933, como um dos melhores filmes do cinema mundial. Entre suas mais de trezentas realizações, contam-se os preciosos levantamentos da história e cartografia do Brasil, foco central dos documentários realizados para o Ince -Instituto Nacional de Cinema Educativo. Seus filmes desperta- ram nos cineastas do Cinema Novo uma consciência do país, um voltar de câmeras para um Brasil profundo que se fez conhecer pelas lentes maurianas. Segundo Glauber Rocha – que re/descobrira Humberto Mauro nos anos 1960 –, estava ali “a raiz do enquadramento brasileiro”, a matriz de um país redescoberto pela autenticidade e pureza da poética de Mauro. Diz ainda Glauber: “Em Cataguases – quando o cinema era mudo e o Brasil era ainda mais selvagem – Humberto Mauro realizou um ciclo cinematográfico, revelando a existência de uma das mais sólidas tradições específicas de nossa cultura. (...) Seu mundo é a paisagem mineira, e Mauro seria o único cineasta capaz de filmar Guimarães Rosa e dar no cinema a mesma dimensão do grande romancista”. Humberto Mauro: plano geral & poesia 175