A crise não parece ter fim PD48 | Page 175

editor de Cinearte , prestigiada revista de cinema . Gonzaga criticara o excesso de letreiros da fita anterior de Mauro , que a partir daí passa a “ falar por imagens ”, essência da linguagem cinematográfica – e como o cinema mudo se fazia entender . Mauro já demonstrava rara inventividade : na sequência de uma tempestade , feita com chuva de regador , os raios são riscados na película virgem . Nas cenas de um galope , o close das patas dos cavalos é feito com uma lata de farinha pintada de preto por dentro . Duas lentes , uma de foco longo outra comum . E Mauro inventa assim uma espécie de teleobjetiva . Impulsionado pelo frescor da iniciação , Thesouro Perdido já é verdadeiramente uma fita de cinema – e recebe o Troféu Cinearte como Melhor Filme Brasileiro de 1927 . Humberto Mauro passa a ficar falado como homem de cinema . Por enquanto , do cinema mudo .
Em meados de 1927 , a Phebo Sul America abre-se a acionistas , passa a denominar-se Phebo Brasil Filme , e elege seu presidente Agenor Cortes de Barros , tendo como secretário Homero Cortes Domingues . O diretor técnico é Humberto Mauro , o único assalariado – e primeiro cineasta a ter carteira assinada no Brasil . Terceira produção do Ciclo de Cataguases , Braza Dormida já representa um princípio de profissionalização . São contratados no Rio não só o fotógrafo – Edgar Brasil , que logo seria o melhor iluminador do cinema brasileiro – como o casal protagonista , Nita Ney e Luiz Soroa . “ De qualquer maneira precisas apresentar agora um filme mais bilheteria . Não são beijos nem farras , mas um sensualismo elegante . Todo filme deve ter uma boa dose pelo menos de mocidade ”, dizia Adhemar Gonzaga , em 1929 , quando Mauro começava a elaborar seu novo roteiro .
Quarta e última produção da Phebo , com externas realizadas no Rio e em Belo Horizonte , Sangue Mineiro já mostra um Humberto Mauro senhor de si – e sua evolução de um filme para outro é precisa , rápida , surpreendente . A fita foi viabilizada pela participação de Carmen Santos – como protagonista e principalmente coprodutora . Esta foi a estreia dela como estrela : apesar de ter feito outros três filmes no Rio , seus fãs – como os de Eva Nil – só a conheciam de fotografia . Sua entrada na Phebo significou prestígio e injeção de capital , mas não o suficiente para a produtora continuar em atividade . A atriz portuguesa vai ter grande importância na trajetória de Humberto Mauro em sua fase carioca .
Com o fim da Phebo , Mauro vai para o Rio a convite de Gonzaga , que acabara de fundar sua produtora , a Cinédia . Com pouco mais de 30 anos , e revelando-se nas várias funções assumidas dentro
Humberto Mauro : plano geral & poesia
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