A crise não parece ter fim PD48 | Page 173

Humberto Mauro : plano geral & poesia
Ronaldo Werneck

Além Paraíba , Minas Gerais , outubro de 1983 . O velho cineasta acorda num hospital , a família em volta : “ Ué , eu já morri ?”. Como todos os iluminados pela inteligência , o cineasta mineiro Humberto Mauro ( Volta Grande , 1897-1983 ) era muitíssimo bem-humorado , um eterno curioso , atento ao mundo à sua volta . Foi o que o levou a fazer cinema . Primeiro , atraído pela técnica ; logo , senhor dela , criando com seu grande talento uma linguagem própria e sempre inovadora . Um rio , uma ponte , uma praça , uma igreja . Seis mil habitantes , se tanto . Essa a Cataguases do início do século XX , na Zona da Mata de Minas Gerais , aonde a família do imigrante italiano Caetano Mauro chega em 1910 . É ali que seu filho , o jovem Humberto Mauro , vai viver até o início da década de 1930 . Viver e iniciar o universo de inquietações que o faria sucessivamente goleiro de futebol , remador , jogador de xadrez , de sinuca , fotógrafo , eletricista , radioamador , músico , dramaturgo , ator , autor , roteirista , montador , diretor e arauto do cinema .

A paixão pelo cinematógrafo surgiu da fotografia . Nos tempos de sua mocidade , trocou sua valiosa coleção de selos por uma máquina fotográfica , como ele mesmo narra : “ Dona Lucília Taveira tinha uma Kodak que já me emprestara e eu fiquei doido por aquela máquina . Perguntei-lhe se não queria trocar por minha coleção de selos e ela aceitou . Foi assim que consegui minha primeira máquina fotográfica , que me ligou a vários fotógrafos , um deles o Seu Pedro Comello . A coleção de selos foi o princípio de tudo , a causa do meu começo no cinema lá em Cataguases ”.
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