A crise não parece ter fim PD48 | Page 163

Breves reflexões sobre a condenação de Luiz Inácio JC Berghella O posição que sempre fui ao populismo travestido de esquerda, não tive nenhum sentimento de vitória ou rancor quanto à primeira condenação de Luíz Inácio Lula da Silva. Todo o processo que o levou à condenação sintetiza um longo percurso de uma ideologia pautada, como talvez diria Marx, na concepção de mundo da pequena burguesia exaltada. Diria, sem contudo absolutizar a questão, que é o fim do pequeno burguês revolucionário. Esta história inicia-se no final dos anos 1950 e início de 1960 com a oposição sindical da Igreja contra os comunistas do PCB, auxiliados que foram por trotskistas, maoístas, socialistas, Fiesp etc. Somaram-se a isso, no pós 1964, os “radicais de palavra” contrários à formação da Frente Ampla contra a ditadura, na medida mesma em que esta se propunha somar JK, Ademar, Carlos Lacerda e as antigas lideranças democráticas do PTB ombro a ombro com o PCB. Completa-se o ciclo inicial com a derrota da luta armada, a mais visível expressão do pequeno burguês revolucionário, tendo seus herdeiros, pouco a pouco, se juntado às demais correntes exaltadas. A fundação do PT tem o mérito de juntar todos os tipos “exal- tados” sob um centralismo burocrático ideológico que se materia- liza na liderança populista de Lula. PT e Lula são almas siame- sas. A condenação de Lula é a condenação do seu lado siamês: o PT. O lado negativo deste processo no futuro poderá ser a desar- ticulação do “bloco exaltado pequeno burguês” dispersando essas 161