A necessidade de um novo paradigma para a crise civilizatória
com definições de novos indicadores de bem-estar
As vertentes da visão estratégica para salvar o ambiente conver-
gem na proposição de criação de novos valores civilizatórios, seja
para conter o crescimento econômico, seja para mudar o padrão de
consumo, o que, na prática, se não significa o mesmo, tem as
mesmas implicações. É o que se intui da obra de Jackson (2009).
De início, argumenta-se que a sabedoria convencional associou
crescimento econômico ao bem-estar, mas, em que pese a expan-
são da economia global, um quinto da população mundial ganha
apenas 2% da renda global. O crescimento econômico, embora não
tenha difundido de forma justa o bem-estar na última metade de
século, quando a economia mundial mais do que dobrou, fez com
que cerca de 60% dos ecossistemas do planeta se degradassem.
O crescimento econômico não oferece, portanto, uma visão confiá-
vel de uma prosperidade compartilhada e duradoura.
Ao lado disso, vê-se que a mudança climática, a segurança de
combustível, a biodiversidade em colapso, e as desigualdades
globais passaram, inexoravelmente, a ocupar lugar de destaque
na política internacional. Ademais, a ideia de que o crescimento
econômico pode superar crises é profundamente problemática.
Mesmo que algo consiga ser feito, a longo prazo persistirá a insus-
tentabilidade financeira e ecológica.
Diante deste fato, a resposta mais apropriada à crise ecológico
-econômica atual é a busca de visões alternativas de como entre
humanos pode haver prosperidade com impacto reduzido sobre o
meio ambiente. Uma visão alternativa torna-se, assim, uma necessi-
dade e uma forma estratégica de enfrentar a destruição do planeta.
Não se pode negar o imperativo de prover as pessoas de
alimento, abrigo, roupas etc., mas a prosperidade tem dimensões
sociais e psicológicas que vão além, como a capacidade de dar e
receber, o respeito de seus pares, o trabalho útil e o senso de
pertencimento e de confiança em comunidade. O Produto Interno
Bruto, PIB, não mensura bem-estar e felicidade. A prosperidade
justa e duradoura não pode estar isolada das realidades, da escala
da população mundial e dos recursos do planeta por pessoa.
Ignorar tais limites é condenar os nossos descendentes e nossos
semelhantes a um planeta de pobreza.
De outro lado, a possibilidade de que os seres humanos
possam prosperar consumindo menos não é de todo impossível,
embora seja tolice supor que isso seria fácil de conseguir. Entre-
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Amilcar Baiardi