A crise não parece ter fim PD48 | Page 156

A necessidade de um novo paradigma para a crise civilizatória com definições de novos indicadores de bem-estar As vertentes da visão estratégica para salvar o ambiente conver- gem na proposição de criação de novos valores civilizatórios, seja para conter o crescimento econômico, seja para mudar o padrão de consumo, o que, na prática, se não significa o mesmo, tem as mesmas implicações. É o que se intui da obra de Jackson (2009). De início, argumenta-se que a sabedoria convencional associou crescimento econômico ao bem-estar, mas, em que pese a expan- são da economia global, um quinto da população mundial ganha apenas 2% da renda global. O crescimento econômico, embora não tenha difundido de forma justa o bem-estar na última metade de século, quando a economia mundial mais do que dobrou, fez com que cerca de 60% dos ecossistemas do planeta se degradassem. O crescimento econômico não oferece, portanto, uma visão confiá- vel de uma prosperidade compartilhada e duradoura. Ao lado disso, vê-se que a mudança climática, a segurança de combustível, a biodiversidade em colapso, e as desigualdades globais passaram, inexoravelmente, a ocupar lugar de destaque na política internacional. Ademais, a ideia de que o crescimento econômico pode superar crises é profundamente problemática. Mesmo que algo consiga ser feito, a longo prazo persistirá a insus- tentabilidade financeira e ecológica. Diante deste fato, a resposta mais apropriada à crise ecológico -econômica atual é a busca de visões alternativas de como entre humanos pode haver prosperidade com impacto reduzido sobre o meio ambiente. Uma visão alternativa torna-se, assim, uma necessi- dade e uma forma estratégica de enfrentar a destruição do planeta. Não se pode negar o imperativo de prover as pessoas de alimento, abrigo, roupas etc., mas a prosperidade tem dimensões sociais e psicológicas que vão além, como a capacidade de dar e receber, o respeito de seus pares, o trabalho útil e o senso de pertencimento e de confiança em comunidade. O Produto Interno Bruto, PIB, não mensura bem-estar e felicidade. A prosperidade justa e duradoura não pode estar isolada das realidades, da escala da população mundial e dos recursos do planeta por pessoa. Ignorar tais limites é condenar os nossos descendentes e nossos semelhantes a um planeta de pobreza. De outro lado, a possibilidade de que os seres humanos possam prosperar consumindo menos não é de todo impossível, embora seja tolice supor que isso seria fácil de conseguir. Entre- 154 Amilcar Baiardi