A crise não parece ter fim PD48 | Page 153

fosse ela de natureza desenvolvimentista, acarretando também mudanças no standard de vida e no aumento do consumo, espe- lhado nos exemplos das sociedades mais afluentes. É neste momento que, aos olhos dos ambientalistas, se igualam os impac- tos das intervenções produtivas na natureza, sejam elas visando meramente à expansão econômica, ou seja, dissociada de efeitos virtuosos, ou visando à expansão associada a melhorias nas condições de vida das populações. Este é o momento no qual se esboça o conceito de desenvolvimento sustentável, que vai além do desenvolvimento sustentado porque, ademais da regularidade da acumulação, tem a dimensão da sustentabilidade, que significa não perenidade do processo, uma vez que se espera que atingido certo nível de renda, de serviços e de emprego ou capacidade de remunerar o não trabalho, a economia ingresse, ceteris paribus, em estagnação ou reprodução simples. Neste estágio, qualquer extração de recursos naturais dar-se-ia não com vistas à acumu- lação, mas à reposição do capital necessário à reprodução simples e com uso de recursos naturais renováveis, no modelo que Ignacy Sachs chama de biocivilização (1986). Este novo entender do desenvolvimento emerge no momento em que se difunde a consciência de que a expansão do consumo convencional e a criação permanente de novas necessidades, com origem no simbolismo e nos desejos criados, ultrapassam as exigências indispensáveis à vida humana e ameaçam a natureza. Pode-se, portanto, afirmar que a normalidade econômica é assegurada pela existência de padrões sociais de consumo cons- pícuo que garantem a demanda efetiva e asseguram o funciona- mento do sistema econômico. Este processo, do qual a revolução industrial foi uma consequência para atender ao impulso mercan- tilista, tem uma origem mais recuada. Ele nasce com o impulso irracional para acumular, enriquecer. A crítica ao mesmo é tardia e ainda não obteve reconhecimento, estatuto e legitimidade para mudar as políticas econômicas dos diferentes Estados nacionais. (BAIARDI; TEIXEIRA, 2010). A mitigação, compensação e as soluções de mercado para a destruição ambiental A economia neoclássica tem se caracterizado, ao longo da histó- ria econômica, pela capacidade de incorporar à sua doutrina concepções que nasceram de sua omissão ou da sua incapacidade de ver certos problemas e para eles apresentar propostas. Diante A biocivilização na passagem da era industrial para a pós-industrial 151