A crise não parece ter fim PD48 | Page 145

A biocivilização na passagem da era industrial para a pós-industrial Amilcar Baiardi C resce a consciência quanto à necessidade de se redefinir a conduta humana em relação à natureza, que nunca esteve tão ameaçada desde que nossa espécie, a Homo sapiens sapiens, deixou a condição de nômade coletor e caçador para se tornar agricultor e, posteriormente, pastor de herbívoros rumi- nantes. Neste momento, já evolutivamente fragilizado em rela- ção a outros mamíferos, mesmo a primatas, como predador – as presas converteram-se em dentes caninos, as garras em unhas e a condição bípede limitava velocidade e força dos membros supe- riores – nossos antepassados, favorecidos por compensação com a evolução do cérebro e das habilidades manuais, conceberam a produção regular de vegetais, principalmente cereais. Este tipo de alimentação tinha a vantagem de poder ser produzido regular- mente e armazenado. O estresse e dispêndio físico do esforço de caça e coleta foram substituídos pela atividade regular de lavrar, colher e armazenar. As lavouras de cereais, por outro lado, geravam restos vegetais com alto teor de celulose que não eram ingeridos pelo homem. Por meio destes restos de cultivos, os agrupamentos humanos passa- ram a atrair animais herbívoros, os quais não percebiam, entre os humanos, características biológicas de predador, 1 deixando-se domesticar, não se evadindo diante da aproximação. Assim, o 1 No processo evolutivo do Homo sapiens sapiens, no qual a condição de onívoro permitia por longo tempo a privaç