A biocivilização na passagem da era
industrial para a pós-industrial
Amilcar Baiardi
C
resce a consciência quanto à necessidade de se redefinir a
conduta humana em relação à natureza, que nunca esteve
tão ameaçada desde que nossa espécie, a Homo sapiens
sapiens, deixou a condição de nômade coletor e caçador para se
tornar agricultor e, posteriormente, pastor de herbívoros rumi-
nantes. Neste momento, já evolutivamente fragilizado em rela-
ção a outros mamíferos, mesmo a primatas, como predador – as
presas converteram-se em dentes caninos, as garras em unhas e
a condição bípede limitava velocidade e força dos membros supe-
riores – nossos antepassados, favorecidos por compensação com
a evolução do cérebro e das habilidades manuais, conceberam a
produção regular de vegetais, principalmente cereais. Este tipo
de alimentação tinha a vantagem de poder ser produzido regular-
mente e armazenado.
O estresse e dispêndio físico do esforço de caça e coleta foram
substituídos pela atividade regular de lavrar, colher e armazenar.
As lavouras de cereais, por outro lado, geravam restos vegetais
com alto teor de celulose que não eram ingeridos pelo homem. Por
meio destes restos de cultivos, os agrupamentos humanos passa-
ram a atrair animais herbívoros, os quais não percebiam, entre os
humanos, características biológicas de predador, 1 deixando-se
domesticar, não se evadindo diante da aproximação. Assim, o
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No processo evolutivo do Homo sapiens sapiens, no qual a condição de onívoro
permitia por longo tempo a privaç