A crise não parece ter fim PD48 | Page 141

costas e fechar os olhos. O meio­ termo é melhor e mais justo do que os extremos. Por isso, talvez, o Brasil, onde o Estado de Bem­- estar Social é um sonho e a visão da pobreza é parte da paisagem, possa ofere- cer uma melhor chance de absorção de imigrantes. E seria bom para a econo­mia. Num momento em que o foco de tudo transita em torno de uma atitude de imolação da alma cor­ rompida do brasileiro e das instituições que cons­t ruiu, talvez nada melhor do que adicionar ingre­ dientes externos no caldeirão para ver se melhora a composição de nossa receita de sociedade. Que ve­nham novos africanos, árabes, europeus, asiáticos e povos que nunca vieram para cá. Uma ação radical, intrinseca- mente boa e voltada para fora de si mes­mo, talvez traga harmonia para uma sociedade que se arrasta no chão das pequenezas. O artigo 33 da Convenção sobre Refugiados da ONU, assinada em 1951, expressa a proibição de expulsar refugiados, causando seu retorno ao local onde sua vida estava ameaçada. Algo que tem sido feito por aí. Só na crise da Síria, mais de dez milhões de pessoas tiveram de fugir e muitas foram cruel­mente impedidas de chegar a algum lugar. Uma das ideias mais interessantes para resol­ver a situação foi formulada por Paul Collier, tam­bém na Foreign Affairs. Ele propõe uma aborda­ gem baseada em desenvolvimento. Parar com es­ sa coisa de acampamento em país vizinho ou mu­dança desesperada para países ricos. Collier suge­re zonas econômicas especiais em áreas vizinhas à Síria. Nelas, empresas se instalariam dando em­pregos para os refugiados, colocando, também, saúde, educa- ção, esporte e lazer de forma susten­t ável como só em uma cidade com atividade eco­nômica pode ocorrer. Os governos e as empresas que hoje doam para garantir a subsistência dos re­fugiados e sua manutenção longe dos Estados Unidos, Japão, Reino Unido e União Europeia passariam a pro­mover a existência deles dando- lhes acesso ao mercado de trabalho. A ideia original de colocar essas zonas econô­micas especiais em países vizinhos é boa pela pro­x imidade geográfica e cultural, sobretudo por fala­rem a mesma língua. Ora, o Brasil tem a maior população oriunda de sírios e liba- neses do mundo. E ainda ocorre de ser presidido, no momento, por um desses descen­dentes. Talvez seja essa a grande chance que o país tem de contribuir para a humanidade, no mo­mento atual. E melhorar no processo a sua própria busca por uma visão positiva sobre si mesmo. Algo que só será alcançado com ações que sejam ao mesmo tempo altruístas, inteligentes e corajosas. O estrangeiro 139