Turquia: vitória democrática é
pretexto para ditadura
Helga Hoffmann
N
o segundo sábado de julho, em várias cidades da Turquia,
houve muita comemoração, para marcar o primeiro aniver-
sário do fracassado golpe militar de 15 de julho. O presi-
dente Recep Tayyip Erdogan voou de helicóptero entre Ancara e
Istambul para reviver momentos do golpe. Na capital, ele falou à
multidão com bandeiras turcas e retratos de Erdogan na ponte
sobre o Bósforo, que fora tomada no dia do golpe.
A ponte agora se chama “dos mártires de 15 de julho”. O presi-
dente chegou acompanhado das famílias das vítimas, para as quais
inaugurou um monumento “dos mártires de 15 de julho”, e prome-
teu “arrancar a cabeça desses traidores”, os golpistas, e obter do
Parlamento o restabelecimento da pena de morte. 1 Atacou a oposi-
ção, a mídia internacional, as potências estrangeiras em tom reli-
gioso: “Eles não tiveram misericórdia quando apontaram suas
armas para meu povo. O que meu povo tinha? Tinha suas bandei-
ras – como hoje – e tinha algo muito mais importante, tinha sua fé”.
Em Ancara, diante do Parlamento, reviveu-se, com efeitos
especiais de luz e som, o momento em que este fora bombar-
deado, há um ano: os projetores se apagaram enquanto se i