A crise não parece ter fim PD48 | Page 134

a de se instalarem silenciosamente dentro do próprio organismo estratégico norte-americano. Consta que Washington cometeu algo que parece ter êxito, descuidos em sua área estratégica, algo fatal para os Estados Unidos, resultando em algo ainda mais inacreditável, para os comentaristas menos prevenidos em relações internacionais: a aproximação realista, pelos bastidores de grandes consór- cios de grandes empresários e magnatas do Partido Republi- cano com Moscou. Não é à toa que o próprio filho do presi- dente Trump, mesmo tão jovem, tenha seu nome envolvido em temas nada claros em relação ao Kremlin, assim como asses- sores que, no passado, não passavam de profissionais do anti- comunismo mais furibundo. A aproximação Donald/Pútin não deveria provocar tanta histeria internacional, mas, melhor examinada à luz de fatos e interesses mútuos, identifica estar bem mais ligada a grandes negócios. Há um certo desespero, neste mesmo mundo ocidental, também pelo fato de que a China acaba de anunciar o seu projeto Rota da Seda, novidade no mundo que não se via há pelo menos há 50 anos, a congregar mais de 60 países, fazendo com que Washington perca o sono. Os adversários da aproximação China/ Rússia/Estados Unidos/Ocidente mostram-se aparentemente ‘atrasados’, talvez por conveniência, diante dos acontecimentos que envolvem a crise geral do Ocidente. Reduzem as questões a mera espionagem e contraespionagem, como se este assunto não fosse corriqueiro entre as partes, há décadas. A não confiança nessa aproximação não se dá apenas com base no argumento, batido, de o presidente Vladimir Pútin ser um antigo agente da KGB, mas, acima de tudo, pela insegurança com que o presidente Donald Trump se comporta, contribuindo para acentuar a crise de hegemonia (cuja contestação generalizada avança sem freios), a assolar a grande potência. É possível que uma outra pessoa, com as mesmas características políticas e pessoalmente grosseiras, tivesse um outro tipo de comporta- mento, mas, o fato concreto é que a instabilidade norte-americana atual não teve início com o atual presidente, embora as suas ações contribuam cada vez para que as incertezas diplomáticas, estra- tégicas e políticas se acentuem, embora toda a culpa seja jogada apenas da dupla sino-russa. 132 Danúbio Rodrigues