A crise não parece ter fim PD48 | Page 126

A relação com os escravos Dentro de meu tempo de pesquisa, durante longos 15 anos, percebi que Bárbara de Alencar imprimiu na convivência com seus escravos traços de cidadania, numa época em que a domina- ção e os maus tratos eram considerados normais. Contraditoriamente, não me deparei com algum questiona- mento sobre o abolicionismo que ela poderia ter imprimido. Madrinha dos escravos Barnabé e Cazumba eles participavam de conversas e privavam de assuntos de sua confiança. Ela foi talvez a mais consciente personalidade do que viria a ser o conceito de cidadania. A vila republicana Bárbara tomou com afinco seu ideal, e em 03 de maio de 1817, juntamente com seus filhos e amigos proclamaram, na missa dominical do Crato, a primeira vila republicana da capitania do Ceará, depois de Recife e Olinda, quando em 06 de março desse mesmo ano eclodiu, em Pernambuco, a Revolução de 1817. Ficar sob o jugo da família real portuguesa já há muito se extrapolava. Os impostos cada vez mais altos, o controle social e político intenso, as melhorias quase sempre dedicadas ao Rio de Janeiro, onde a monarquia havia construído seus palácios. A proclamação do Crato numa vila republicana somente perdurou oito dias. Três dos filhos de Bárbara de Alencar foram presos: Carlos José dos Santos, José Martiniano e Tristão Gonçal- ves. Ela somente foi presa pouco mais de um mês depois, em 13 de maio, na companhia do padre Miguel Carlos da Silva Salda- nha, havendo suposições de os dois terem mantido denso relacio- namento amoroso. Considerada, em tempo cronológico, a primeira presa política do Brasil, Bárbara é a primeira republicana das Américas. As prisões Bárbara de Alencar permaneceu presa por mais de três anos no Quartel da 1ª Linha em Fortaleza, no Forte de São Tiago das Cinco Pontas em Recife, e em Salvador numa presiganga, como se denominava as embarcações em desuso e utilizadas em local de encarceramento. Depois de ela e seus filhos, o cunhado, o irmão e tantos outros republicanos cearenses e pernambucanos terem recebido o Perdão 124 Gylmar Chaves