A crise não parece ter fim PD48 | Page 124

Breve relato de uma sertaneja vibrante e inflexível que ajudou a mudar a história do Brasil Gylmar Chaves A história de Bárbara de Alencar é muito cativante pelos traços universais do feminino bravio que carrega, por sua paixão pela política e por sua gesta heroica. Desde o início do ano 2000 me debrucei sobre os fatos para construir uma narra- tiva histórica adornada pelas vergas da oralidade e das lendas, e de um laborioso trabalho bibliográfico, extraindo desses marcos da pesquisa, episódios inusitados. Bárbara de Alencar, ou dona Bárbara do Crato, como assim se tornara conhecida, me embrenhou nas trilhas do nosso processo colonizatório, conduzindo-me pela mão à tentativa de desvendar sua ancestralidade em terras brasileiras e portuguesas, conviver com sua família, ouvir sua fala, cavalgar as margens dos rios e sentir a dor que ela, três de seus filhos, um irmão, um dos cunha- dos, e muitos outros que aderiram à construção do ideário repu- blicano, sofreram nos cárceres imperiais do Ceará, de Pernam- buco e da Bahia. Sem medo de romper Nascida em 11 de fevereiro de 1760, na Fazenda Caiçara, próxima à cidade pernambucana de Exu, ainda um pequeno povoado, ela se casou aos 22 anos, com o comerciante português José Gonçalves dos Santos, e foi residir no Crato, a vila mais próspera da região. Aponta-se que, nas noites de lua cheia, costumava ler clássi- cos da literatura universal, em sua calçada, para um público geralmente constituído de homens, por mulheres serem proibidas de ler, escrever e participar de reuniões sociais e políticas, além de outras “não permissões”. Desse contexto, podemos perceber que fomos impedidos ao acesso às inúmeras contribuições que as mulheres deram ao nosso país, muito embora algumas delas tenham conseguido romper com esse rolo opressor imposto à memória e à historiografia. Bárbara de 122