Breve relato de uma sertaneja
vibrante e inflexível que ajudou a
mudar a história do Brasil
Gylmar Chaves
A
história de Bárbara de Alencar é muito cativante pelos
traços universais do feminino bravio que carrega, por sua
paixão pela política e por sua gesta heroica. Desde o início
do ano 2000 me debrucei sobre os fatos para construir uma narra-
tiva histórica adornada pelas vergas da oralidade e das lendas, e
de um laborioso trabalho bibliográfico, extraindo desses marcos
da pesquisa, episódios inusitados.
Bárbara de Alencar, ou dona Bárbara do Crato, como assim se
tornara conhecida, me embrenhou nas trilhas do nosso processo
colonizatório, conduzindo-me pela mão à tentativa de desvendar
sua ancestralidade em terras brasileiras e portuguesas, conviver
com sua família, ouvir sua fala, cavalgar as margens dos rios e
sentir a dor que ela, três de seus filhos, um irmão, um dos cunha-
dos, e muitos outros que aderiram à construção do ideário repu-
blicano, sofreram nos cárceres imperiais do Ceará, de Pernam-
buco e da Bahia.
Sem medo de romper
Nascida em 11 de fevereiro de 1760, na Fazenda Caiçara,
próxima à cidade pernambucana de Exu, ainda um pequeno
povoado, ela se casou aos 22 anos, com o comerciante português
José Gonçalves dos Santos, e foi residir no Crato, a vila mais
próspera da região.
Aponta-se que, nas noites de lua cheia, costumava ler clássi-
cos da literatura universal, em sua calçada, para um público
geralmente constituído de homens, por mulheres serem proibidas
de ler, escrever e participar de reuniões sociais e políticas, além
de outras “não permissões”.
Desse contexto, podemos perceber que fomos impedidos ao
acesso às inúmeras contribuições que as mulheres deram ao nosso
país, muito embora algumas delas tenham conseguido romper com
esse rolo opressor imposto à memória e à historiografia. Bárbara de
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