A crise não parece ter fim PD48 | Page 121

contra os portugueses, chegando a pegar em armas, como o foi na Bahia. E isto porque certamente enxergassem a libertação do jugo colonial como real possibilidade de extinção do escravismo e do rompimento das barreiras raciais. Entretanto, as elites brasilei- ras, embora os tenha aceitado como soldados na luta pela autono- mia, não lhes reconheceu como cidadãos do Império que se esta- belecia, condição essa plenamente concedida aos portugueses que ficaram ao lado de Pedro I. Na República, com a desorganização da produção agrícola após a abolição e a falta de uma política fundiária, os negros do campo foram para as cidades engrossar a massa de miseráveis. E o imigrante, chegado ao Brasil a partir de 1824, depois de substituir o escravo na lavoura, passou também a ocupar, nos centros urba- nos, espaços de trabalho antes próprios dos negros. A estes, então, restaram as ocupações mais pesadas e de menor remuneração. Assim, até à atualidade, as estatísticas oficiais mostram que os trabalhadores afrodescendentes, como um todo, ganham, em média, salário inferior ao dos brancos, mantendo-se essas diferen- ças em todas as categorias profissionais, mesmo entre trabalhado- res com o mesmo nível de instrução e experiência profissional. Parte dessa subalternidade, entretanto, pode ser também debitada ao modelo educacional brasileiro. Em geral sem acesso, desde o curso elementar, aos melhores estabelecimentos de ensino, o jovem negro se vê alijado de redes de amizade e parce- rias importantes para a vida adulta, o que o afasta e a seus descendentes do poder decisório, mantendo-se, assim, o círculo vicioso da exclusão. No Brasil, então, a igualdade entre brancos e negros ainda é incompleta. Embora formalmente estabelecida, ela esbarra em práticas sutis e insidiosas que criando, por meios indiretos, uma enorme disparidade, em termos de riqueza, tratamento e repre- sentação, perpetuam a histórica desigualdade. Um claro exemplo foi a negação do direito de voto aos analfabetos, mantida até 1988 e afetando a maior parte da população negra de um país que não criou políticas eficazes para erradicação do analfabetismo. Vem daí, também, a baixíssima ou nula representatividade do povo negro, nos primeiros escalões dos três Poderes; nos altos postos da oficialidade nas três Forças Armadas; e entre os governadores das 27 unidades da federação; no corpo diplomático; e na direção de influentes instituições da sociedade civil como a Ordem dos Advogados do Brasil, a Associação Brasileira de Imprensa, a Fede- Brasil, a real identidade do “país dos imigrantes” 119