A crise não parece ter fim PD48 | Page 120

de asiáticos . Com a imigração europeia , procurava se “ arianizar ” a população brasileira , consolidando-se , assim , um “ melhoramento ” étnico já iniciado com o processo de mestiçagem . Muitos cientistas e intelectuais , como Nina Rodrigues , Oliveira Vianna e Sílvio Romero , esposando as ideias do Conde de Gobineau , o famigerado autor do Ensaio sobre a Desigualdade das Raças Humanas , deram sustentação a essa estratégia .
Em 1911 , por exemplo , no I Congresso Universal de Raças , realizado em Londres , o delegado brasileiro , João Batista de Lacerda , diretor do Museu Nacional , apresentava oficialmente uma tese , segundo a qual , em cem anos , a miscigenação levaria a população brasileira ao desejado embranquecimento total . Avalizada , então , pela “ ciência ”, a tese tomou foros de ideologia e , daí , contaminando até a mentalidade popular , consolidou-se em forma de política pública . A partir daí , projetos de lei contra a imigração de “ colonos da raça preta ”, bem como artigos e conferências considerando a arianização da população brasileira como fenômeno fatal e inevitável , tomaram corpo . Até que em 1946 , por meio do Decreto-lei n º 7.967 , a tese racista ganhava a prática num dispositivo que estatuía : “ Os imigrantes serão admitidos de conformidade com a necessidade de preservar e desenvolver o Brasil na composição de sua ascendência europeia ”.
Paralelamente , já na década de 1920 , apoiada na pedagogia eugenista então em vigor , popularizava-se , entre as crianças das classes mais favorecidas , uma certa literatura infantil e até mesmo didática , que reforçava alguns estereótipos difusores da ideia da inferioridade dos afrodescendentes . Mas o branqueamento da sociedade brasileira não se confirmou .
Apesar disso , as marcas dos procedimentos de exclusão e ocultação , que perpetuaram o quadro de dominação política e econômica dos tempos escravistas , ainda são bem visíveis no corpo e na alma dos afrobrasileiros de hoje .
Uma realidade de exclusão e baixa representatividade
O modelo de colonização imposto ao Brasil plasmou a exclusão que caracteriza a sociedade brasileira até hoje , punindo cruelmente os africanos e seus descendentes . Na Colônia e no Império , os miseráveis eram os escravos , juridicamente considerados como coisa e , portanto , fora do alcance da justiça social . Por ocasião da Independência , africanos e crioulos , em geral , posicionaram-se
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