A Capitolina 8, agosto 2014 | Page 33

Resenhando Jr. 31

MUNHOZ, Carolina. "O Inverno das Fadas''. Fantasy Casa da Palavra. 2012. 1 edição. 304 páginas.

bastante engenhosidade. Eu particularmente gosto muito da maneira como ela caracterizou a personagem William, que me parece um herói bem mais viril e envolvente do que os que têm aparecido nos demais romances juvenis da atualidade. Além disso, criou um universo inteiro de entidades mágicas que transitam dentro de um enredo bastante verossímil. Diante de tudo isso, fica difícil não se envolver com a trama e torcer para que o jovem casal apaixonado consiga de uma vez por todas vencer aqueles que os impedem de se unirem.

Me parece que Munhóz soube dar um final coerente à história, que termina não apenas de forma original, como também com a dose certa de drama – sem escorregar para o excesso e beirar ao sentimentalismo barato ou pecar pela falta e, consequentemente, não emocionar o leitor. Assim, embora aborde um tema que já se tornou clichê nos livros mais vendidos para o público juvenil, a autora soube conferir a sua marca pessoal. O casal Sophia Coldheart-William Bass tem sua lógica própria, única, distinguindo-se desse modo de outros modelos conhecidos dos leitores de mesma faixa etária, como Bella Swan-Edward Cullen, Katniss Everdeen-Peeta Mellark ou Beatrice Pior-Tobias Eaton.

Particularmente senti falta de uma caracterização mais detalhada do reino das fadas, o que, em minha opinião, poderia ter contribuído para enriquecer a narrativa. A autora escreveu várias linhas sobre a cidade de Bassenthwaite, mas gastou poucas para falar do reino de Annwn, assim como das entidades que moram nesse reino, ou das práticas mágicas realizadas por elas. Por outro lado, me cansei com as repetidas cenas de sexo entre Sophia e William. Essa é uma questão que sempre me incomoda e, não raras vezes, eu costumo pular algumas linhas quando me deparo com alguma imagem que me parece excessivamente erótica. A própria terminologia usada por Munhóz para se referir a palavras relacionadas ao sexo não me agradou nem um pouco. Não é mero pudor que me leva a fazer tal afirmação, mas também o desejo de dar uma margem maior à imaginação do leitor que, quando tem diante de si um livro de fantasia, não precisa necessariamente ser exposto a todo tipo de imagem.

Por fim, acho que a autora poderia rever os estereótipos veiculados ao longo de sua narrativa, que longe de inocentes estão repletos de juízos de valor extremamente preconceituosos. Cito alguns exemplos: o quarto de Willians é descrito como muito organizado “para um quarto de homem” (p. 78) e o próprio rapaz aparece como tendo “braços fortes, um peitoral bonito e definido, além de coxas grandes. Visual de homem que frequentava academia e não de nerd escritor como parecia” (p. 147).

Eu poderia parar por aqui, mas acontece que o sexo feminino acabou sendo o mais injustiçado na obra. Para começar, o encontro da família do escritor com sua nova namorada é apresentado nas seguintes palavras: “Sempre era bom desconfiar de uma moça bonita, pois na maioria dos casos eram burras ou interesseiras.” Se isso por si só não fosse o bastante, há ainda a seguinte opinião sobre a maneira como os indivíduos góticos se vestem, especialmente as meninas: “A garota entrou com uma vestimenta gótica quero-ser-Amy -Lee e o rapaz não parava de imaginar como a mãe dela não havia interferido na péssima escolha. Era uma blusa preta que deixava completamente à mostra o sutiã, que lembrava bordéis imundos. Usava uma saia mais apertada do que deveria. E mais curta do que deveria ser permitido.”

Vou me furtar da tarefa de comentar os dois trechos acima esperando que os itálicos tenham conseguido passar a minha mensagem ao leitor. Munhóz tem a criatividade e o talento necessários para se consagrar com uma leitura de um público cada vez mais amplo. Por isso, seria desejável que a autora deixasse de inserir em suas obras juízos negativos sobre a maneira como as pessoas se vestem e comportam, especialmente quando eles podem incentivar o despeito com o próximo.