A Capitolina 8, agosto 2014 | Page 16

15 Escrituras

Wouter Hanegraaff no Dictionary of gnoses & western esotericism distingue duas perspectivas acerca do sentido do termo esoterismo: a) uma construção tipológica (certos tipos de atividade religiosa com sua estrutura específica); b) ou como um tipo de religião ou dimensão estrutural (associado a certas correntes históricas ou culturais da tradição ocidental) (HANEGRAAFF, 2006, p.337).

Existe aí o debate sobre a necessidade de restringir o âmbito do esoterismo à modernidade ou à contemporaneidade, caracterizado pela busca de um núcleo dominante para o estabelecimento de uma periodização ou demarcação histórica do esoterismo e sua definição.

Uma saída para uma definição apoiada em uma periodização seria delimitar uma corrente histórica específica, porém quais seriam os pressupostos para o acolhimento de uma corrente como definição de esoterismo?

Von Stuckrad critica a definição de Hanegraaff por ele usar duplamente o termo “certos” (certain) como vago para distinguir dois sentidos de esoterismo. O que há de racional nisso? (cf. Von Stuckrad, 2005, p.79). Poderíamos selecionar hermetismo, paracelsismo, new age, separadamente excluindo os demais, entretanto não teríamos uma definição geral do que seja esoterismo. Em vez disso ressalta-se o caráter de conhecimento rejeitado pela academia, no qual o próprio estudo do esoterismo retornaria excluindo certos componentes que integrariam sua própria definição. Isso sugere uma reflexão acerca dos pressupostos e preconceitos dos pesquisadores acadêmicos.

Segundo Von Stuckrad, alguns estudiosos preferem aplicar o termo esoterismo para um restrito contexto ou período, da mesma forma que autores evitam outras formas de abordagens históricas, ou evitam o uso do termo esoterismo para não serem associados ao movimento moderno “new age” (Von Stuckrad, idem).

Ainda seguindo a crítica de Von Stuckrad, o desafio acadêmico de delimitação de campo e definição do conceito é imprescindível para fornecer um prévio quadro interpretativo no qual estes diversos estudos (hermetismo, alquimia, rosacrucianismo, maçonaria, new age, etc.) possam estar devidamente ancorados em seu devido lugar. A proposta de Von Stuckrad (cf. artigo nas referências) não é definir o esoterismo por meio das correntes históricas que a compõem, senão defini-lo como “um elemento estrutural da cultura ocidental”. Além disto, é necessário perguntar: qual a importância do esoterismo na “dinâmica da história ocidental”? e o que podemos “obter com o uso de uma ética do esoterismo”? (Von Stuckrad, 2005, p.80).

se efetua de qualquer maneira. Isso sugere a emergência de um Iniciador e um sistema “legítimo” e “regular”. Isto se encontra de maneira bastante clara dentro de todos os sistemas iniciáticos ocidentais que podem ser investigados (maçonaria, rosacrucianismo, martinismo, etc.).

Todos os elementos expostos aqui sugerem um ponto de partida para o estudo do esoterismo e suas diversas correntes. A tentativa de Faivre em elencar seis elementos fundamentais não visa constituir um marco doutrinário para a área, senão assinalar a presença de pontos comuns aos mais variados discursos ou disciplinas esotéricas. Cada elemento pode variar hierarquicamente dentro de um determinado sistema, como também pode assumir posições metafísicas, teológicas ou cosmológicas diferentes.

O Problema da definição acadêmica de esoterismo