A Capitolina 8, agosto 2014 | Page 13

aquele que o segue a um lugar o qual conteria um tipo superior de conhecimento através do contato direto com a tradição (FAIVRE, 1994, p.10). As escolas ou correntes seriam um meio para alcançar esse lugar, tanto que o termo esoterismo poderia se referir tanto ao meio

Seria, entretanto, no mínimo ignorância, ou ingenuidade, supor que tudo aquilo que é herético ou contrário a um conteúdo dogmático seja “esotérico”. Podemos perceber que as correntes ditas esotéricas surgem dentro de movimentos religiosos, da mesma maneira que vemos falar com certa frequência de “cristianismo esotérico” ou “budismo esotérico”, como sendo a versão marginalizada da doutrina oficial.

O caso do dogmatismo não é restrito à questão religiosa, mas atinge até mesmo o ambiente filosófico. Na tradição filosófica ocidental, tudo o que se diz “esotérico”, ou se aproxima disso, é rejeitado reiteradamente e taxado como irracional, contraditório ou como um problema superado, um velho quadro inútil da ignorância primitiva do homem (cf., por exemplo, a crítica de Theodor Adorno contra a astrologia, sendo esta instrumento de manipulação ideológica em As Estrelas descem à Terra, por outro lado, cf. Paul Feyerabend em O Estranho Caso da Astrologia; também “O Mundo Humano do Espaço e do Tempo”, In. Ensaio sobre o Homem de E. Cassirer). Sendo então tudo aquilo que não se encaixa no padrão “racional” ou do método não aceitável ou passível de estudo.

A questão que sugere “ir para dentro”, indica olhar “de fora” algo que desde a idade média estava inserido na Teologia (FAIVRE, idem). O jugo da Teologia acerca do esotérico o tornara periférico ou excluído; entretanto, o desmantelamento do lastro que sustentava a hegemonia da Teologia fez surgir um campo vasto passível de inúmeras abordagens, sem a necessidade da Teologia para acessá-la. Ou seja, foi primeiro necessário “ir para fora” do teológico, para acessar o esotérico por meio dele mesmo (o “interno”), ou seja, desde a perspectiva – no sentido mesmo de visão – do esoterista, recuperando-o do exílio, do claustro teológico.

Devemos muito aos humanistas renascentistas neste ponto, pois eles ousaram romper com o jugo teológico-escolástico para celebrar um verdadeiro casamento entre as doutrinas das religiões abraâmicas com as doutrinas hermético-filosóficas (cf. Pico della Mirandola, Discursos Sobre a Dignidade do Homem). O desprendimento da Teologia descortinou o campo de abrangência do esoterismo, e o mesmo ocorreu com a ciência: ela se tornou autônoma. O conteúdo dito esotérico passou a designar assuntos de cunho metafísico, cosmológico e ético, fora do âmbito teológico.

Segundo Faivre, as fontes as quais constituem a Tradição Esotérica Ocidental podem ser distinguidas como grandes rios que deságuam no oceano do esoterismo moderno. Estas disciplinas ou ramos irrigam a Alquimia, a Astrologia e a Magia, sendo seus afluentes – usando a metáfora de Faivre (FAIVRE, 1994, p.14) os seguintes:

Cabala cristã;

Hermetismo neoalexandrino;

Philosophia perennis (Tradição Primordial);

Paracelsismo;

Naturphilosophie;

Teosofia (séc. XVII);

Rosacrucianismo;

Sociedades Iniciáticas.

Alquimia

Astrologia

Magia

Todos os afluentes irrigaram, forte ou tenuemente, os três grandes rios do esoterismo. Todos eles mantêm relações entre si, como também com as tradições religiosas ou culturais que não podem ser totalmente separadas ou dissociadas, pois ambas são fontes para uma estrutura do imaginário esotérico, o que é bastante visível ao analisarmos profundamente estas obras. Há um distanciamento das questões teológicas, entretanto se mantêm as filiações religiosas (ou talvez espirituais) e culturais, aspectos mitológicos e sociais que envolvem toda a formação esotérica de seus componentes.

Escrituras 12