A Capitolina 6, junho 2014 | Page 8

marcador de ouro

7 A Capitolina

Meu amor,

Não sei se posso ou devo chamá-la assim. Que desafio! Restaram-me apenas quinhentas palavras para relatar o que sinto! Depois dessas frases iniciais, menos que isso. Não sei o que aconteceu, digo, o que realmente não aconteceu.

A minha caneta falha por causa do atrito com a carência; não consegue grafar sua tinta azul-solidão sobre essa página de lágrimas e saudades. A mão, que nesse instante (d)escreve esse terremoto dentro do peito, tremula o temor desmedido do fim da linha. O dactilospasmo travou os movimentos e a fluência da minha escrita sobre essa pauta. Fico remoendo o papel que tive na sua vida, sem compreender. A única conclusão que cheguei foi que você teve papel muito importante na minha.

Amasso a folha, joga-a direto no lixo; me arrependo na hora, pego-a de volta, correndo. Leio, releio. Deixo vazar mais algumas gotas dos meus olhos já tomados pela vermelhidão dos soluços incontidos. Coloco-a na gaveta. Começo do zero. Em outra folha em branco, escrevo tudinho novamente, e precisamente com as mesmas palavras (tenho memória fotográfica para palavras). Paro exatamente no mesmo ponto que antes: o ponto de interrogação – Por quê? Por quê? Fico sem reposta. A ausência é a febre da alma, que ferve no caldeirão do sofrimento sob as labaredas do fogão à queima-roupa.

Não consigo prosseguir. E só restam-me apenas duzentas e oitenta e uma palavras. Já não mais.

Você faz tanta falta, meu amor, que ando me sentindo semente: ora sem chão; ora com chão porém sem adubo; ora com chão e adubo, mas sem chuva. Ora, ora, ora! O que me levou a essa situação?

Não quero que pense que estou sendo oportunista, mas eu fui via de mão dupla, e você, rua de mão única. Dependendo do jeito que eu me dirigia, lá estava o seu dedo em riste, apontando o sinal de contramão. Então, eu esperava, esperava você dar o sinal de avançar, mas o sinal nunca abria para mim. Mesmo assim, eu continuava em trânsito, na esperança de chegar ao meu único destino – o seu coração –, e lá estacionar os meus mais acelerados sentimentos. Mas tinha guarda por todos os lados, por todo o canto. Impossível seguir.

carta aberta a um coração fechado