A Capitolina 6, junho 2014 | Page 16

15 Escrituras

já mais organizada, assume o importante papel de introduzir os jovens ao hábito da leitura.

Dispensável até o século XVIII, a escolarização foi convertendo-se, aos poucos, na atividade compulsória da criança e a freqüência às salas de aula torna-se seu destino natural. Como a família, a escola se qualifi ca como espaço de mediação entre a criança e a sociedade. Além do mais, ela ajuda a reduzir do mercado um contingente considerável de operários mirins, que ocupa vam, nas fábricas, o lugar dos adultos. Numa sociedade que cresce por meio da industria lização e se moderniza em decorrência dos novos recursos tecnológicos disponíveis, a lite ratura infanto-juvenil assume, desde o começo, a condição de mercadoria. No século XVIII, aperfeiçoa-se a tipografi a e expande-se a produção de livros. No Brasil, a história da literatura brasileira para a infância começou tardiamente. Com a implantação da Imprensa Régia, em 1808, começam a ser publicados livros para crianças. Com a idéia de que o hábito de ler era importante para a formação do cidadão, começam a sistematizarem-se os primei ros esforços para a consolidação dessa literatura indicada ao público infanto-juvenil. Mesmo com difi culdades como a carência de tradução e adap tação das obras provenientes da Europa, o mercado editorial infanto-juvenil começa a concretizar-se no Brasil.

Cerca de dois séculos se passa ram e, hoje em dia já bem estabe lecido, o mercado editorial brasileiro cresce considera velmente e, com isso, a literatura infanto-juvenil ganha cada vez mais espaço dentro do setor; diversos são os autores, grande é a diversidade de obras destinadas a esse público. Pode-se dizer que as difi culdades que existiam séculos atrás, como

a falta de tipografi as e a não-profi ssionalização do escritor, como já citados, hoje em dia não

existem mais.

O que se vê no quadro da literatura infanto-juvenil brasi leira, atualmente, é que há uma maior conscientização da impor tância desse gênero literário, até por uma questão de cidadania, pois é inegável o fato de que, por meio de livros, são trabalhadas diversas questões importantes para a constituição de um cidadão no futuro. No entanto, ainda é necessário mais incentivo à questão da literatura infanto-juvenil, a fi m de cada vez mais manter crianças e jovens ligados aos livros.

Freqüentemente surgem ques tões relacionadas ao fato de que se a criança ou o jovem que comprou determinada obra realmente a leu. É importante lembrar que, tratando-se de crianças, as escolhas das obras que por elas serão lidas são feitas, geralmente, pelos pais ou

professores. Ela, portanto, difi cilmente irá até uma livraria e escolherá, sem infl uência, o que

gostaria de ler. No entanto, os resultados a que se chegou são dados provindos de jornais e

revistas; não é do âmbito dessa pesquisa, portanto, questionar se as obras que apareceram nas

listas realmente foram lidas pelo público que a comprou. O fato de tais obras serem as mais

vendidas já basta e indica que elas despertaram algum interesse em seus consumi dores. Já com os jovens, visto que se trata de literatura infanto-juvenil, isso não ocorre; eles são capazes de escolher, aceitar ou descartar as obras dos mais diversos temas que surgem no mercado, sobretudo os best-sellers, como a série de Harry Potter (Rowling 2000 – 2006) que, nesse caso, é uma produção literária extrema mente aceita pelo público jovem atual.

Mas o que o público infanto-juvenil busca nos textos que lê? Houve alguma mudança entre suas preferências de cerca de vinte anos para cá? A fim de responder a essas perguntas, propõem-se alguns dados coletados sobre o mercado livreiro infanto-juvenil da década de 1980 e do período entre 1994 a 2004, ou seja, até praticamente os dias atuais. Vale ressaltar que o período entre 1990 e 1994 fi cou fora da cobertura da pesquisa por uma questão de falta de fonte. Todas as fontes utilizadas na coleta dos dados não fornecem informações sobre os livros mais vendidos de literatura infanto-juvenil do período entre 1990 e 1994, mantendo apenas as listas tradicionais de fi cção e não-fi cção, juntamente com listas contendo livros de temas como esoterismo, política, economia, negócios, erotismo, educação e geopolítica, que alternavam entre si.

Partindo de um levantamento de dados realizado pelo prof. Dr. Arnaldo Cortina

(UNESP – Faculdade de Ciências e Letras Campus de Araraquara) em seu projeto de pesquisa

intitulado “História da leitura no Brasil: 1960-2000”, cujas fontes foram o Jornal do Brasil e

o Jornal Leia, pôde-se detectar os livros de literatura infanto-juvenil mais vendidos na década

de 1980 no Brasil. Os dados relativos ao período de 1994 a 2004 também foram extraídos

de ambos os jornais, e foram complementados pela revista Veja e pela revista Época que, por

mais que não publiquem resenhas e matérias sobre a literatura infanto-juvenil, começaram a

publicar no ano de 2000 pequenas listas dos mais vendidos desse gênero. Uma vez levantados

esses dados provindos das listas mensais de jornais e de revistas, foi possível chegar aos dez

livros desse gênero que mais apareceram na coleta.

Para uma melhor visualização da proporção de venda entre eles, propõe-se o gráfi co

abaixo, primeiramente sobre a década de 1980.