A Capitolina 6, junho 2014 | Page 15

Escrituras 14

educacional, ou seja, se a educação dos indivíduos passa pela escola, então é preciso

produzir livros para estudantes e, ao mesmo tempo, dispor de professores, também formados

por esses livros. A segunda relaciona-se à estrutura tecnológica: para produzir livro, são necessárias tipografias e editoras, como já citado:

O livro didático, esse primo-pobre, mas de ascendência nobre, é poderosa fonte de conhecimento da história de uma nação, que, por intermédio de sua trajetória de publicações e leituras, dá a entender que rumos seus governantes escolheram para a educação, desenvolvimento e capacitação intelectual e profissional dos habitantes de um país. (Lajolo & Zilberman, 1998: 122)

O livro didático é, portanto, um refl exo da educação de um país. Vale ressaltar, contudo, que o livro didático é apenas o primeiro passo para o contato da criança com uma produção editorial. Esse tipo de produção não garante, assim, que o aluno se tornará um leitor ativo, pois a leitura é um hábito que deve ser adquirido e realizado por prazer, sem as imposições feitas pelo livro didático. Em outras palavras, é preciso estimular o gosto pela leitura, o que fará com que a criança e o jovem tenham a curiosidade e a necessidade do conhecimento, fazendo com que busquem sempre novas obras, diferentes daquelas estabelecidas pelos professores ou sugeridas pelos pais. Reduzir o universo da leitura a apenas alguns livros didáticos não é o caminho para formar um leitor ativo; é preciso que os professores indiquem outras leituras.

Um caminho que pode ser o início desse estímulo tão necessário às crianças e aos jovens são as obras para didáticas. Sem a mesma imposição dos livros didáticos, as obras paradidáticas, indi cadas pelos professores, devem ser bem escolhidas, pois, além de serem excelentes ferramen tas de ensino, podem contribuir para a adesão de seus leitores ao mundo das letras. De nada adianta indicar aos alunos uma obra rica em vocabulário, de estrutura narrativa complexa, por exemplo, se essa obra não cair no gosto deles; assim, defi nitivamente, a criança e o jovem estarão cada vez mais alheios ao mundo da leitura por prazer. Para que a escolha das obras paradidáticas a serem indicadas seja bem sucedida, é preciso conhecer o gosto da criança e do jovem com quem se está lidando.

A importância destinada à literatura infanto-juvenil é algo relativamente recente. Somente no século XIX a escola começou a se organizar e o livro didático, agora mais aperfeiçoado, deu outra forma ao ensino, principalmente ao da leitura de literatura infantojuvenil. Até então, as crianças e os jovens não podiam se valer de uma literatura dedicada totalmente a eles, o que fazia com que lessem obras endereçadas aos adultos ou, na maioria das vezes, nada lessem.

As primeiras obras publicadas que tinham como alvo o público infantil apareceram no mercado livreiro na primeira metade de século XVIII. Antes disso, apenas durante o classicismo francês, no século XVII, foram escritas histórias que vieram a ser englobadas como literatura também apropriada à infância: as fábulas, de La Fontaine, editadas entre 1668 e 1964, por exemplo.

Mas os escritores franceses não retiveram a exclusividade do desenvolvimento da literatura para crianças. A expansão deu-se simultaneamente na Ingla terra, país onde foi mais evidente sua associação a acontecimentos de fundo eco nômico e social que infl uíam na determinação das caracte rísticas adotadas.

Um dos fenômenos mais gerais que marcou o século XVIII e que, indiretamente, favoreceu o mercado literário infanto-juvenil foi a industrialização. As fábricas, localizadas nos centros urbanos, atraíam trabalhadores vindos do campo, que partiam em busca de melhores oportunidades de serviço. A manutenção de um estereótipo familiar, que se estabiliza por meio da divisão de trabalho entre seus membros, convertia-se na fi nalidade existencial

do indivíduo. A criança passa a deter um novo papel nessa sociedade que cresce a cada dia, motivando o aparecimento de objetos industrializados (o brinquedo) e culturais (o livro) ou novos ramos da ciência (a psicologia infantil, a pedagogia ou a pediatria). E a escola, agora

já mais organizada, assume o importante papel de introduzir os jovens ao hábito da leitura.

Dispensável até o século XVIII, a escolarização foi convertendo-se, aos poucos, na atividade

compulsória da criança e a freqüência às salas de aula torna-se seu destino natural.