A Capitolina 6, junho 2014 | Page 14

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atraídos pelos jogos virtuais, pela internet e por tudo o que estiver relacionado a entretenimento vinculado à tecnologia. É preocupante observar como, no Brasil, em meio a tantos campos de conhecimento, há, de acordo com Ceccantini (2004: 34), um grande “empurra-empurra (...) para ver a quem cabe o ‘pesado fardo’ de se ocupar da literatura infanto-juvenil”. Para uma expansão desse gênero lite rário, tornam-se necessárias pesquisas na área e divulga ções, inclusive em meios não–acadêmicos. No entanto, em diversos veículos de comu nicação renomados, pouca atenção é dada à literatura infanto-juvenil.

Se considerarmos revistas semanais de grande tiragem, como Veja, Isto é e Época ou, para fi car circunscrito ao contexto específi co paulista, se nos ocuparmos dos cadernos de cultura de jornais como Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo, verifi caremos que não há absolutamente colunas que, de forma sistemática e com periodicidade regular, se dediquem à crítica das obras infanto-juvenis lançadas no mercado. Quando muito, nos suplementos infantis ou juvenis desses jornais, ocorre a divulgação dos lançamentos de obras, acompanhada vez por outra por um ou outro comentário breve da equipe de redação ou dos próprios leitores. Para além dessas publicações, talvez se pudesse lembrar quando muito as curtas recensões de obras infanto-juvenis em alguma revista feminina, como Cláudia, ou nas poucas revistas de grande circulação voltadas explici tamente ao professor de Ensino Fundamental, como Nova Escola. (Ceccantini 2004: 34)

Como se vê, a literatura infanto-juvenil é, muitas vezes, marginalizada, não recebendo

o devido incentivo que merece. Tal incentivo deveria começar justamente na divulgação, pelos

jornais e revistas de grande circulação, de novas obras, de novos autores e de novos temas.

Assim, com maior divulgação desse gênero literário, além de outros recursos necessários, a

adesão dos leitores mirins ao mundo das letras se tornaria mais fácil.

O livro, no entanto, não está, muitas vezes, ligado à diversão das crianças e dos jovens. Por isso, deve-se estudar a fundo o gosto desses pequenos leitores e, assim, mudar esse quadro de desapego à leitura, pois estimular o leitor infanto-juvenil é o primeiro passo para

que ele seja um leitor ativo quando adulto. Com tantas facilidades de acesso ao livro, bem como a diversidade de obras infanto-juvenis como temos hoje, chega a ser um desperdício a não-adesão das crianças e dos jovens ao mundo das letras.

O acesso ao livro no Brasil, porém, nem sempre foi tão facilitado como atualmente,

com algumas exceções. Até o século XIX, esse mercado estava ainda pouco desenvolvido; a produção de livros não era realizada em larga escala e, além disso, não era possível um escritor viver da venda de suas obras. Assim, tendo ele que trabalhar em outra área, não sobrava muito tempo para novas produções; esses eram os dois principais fatores que impediam o mercado livreiro de se expandir. Mesmo com a existência de instrumentos legais para a regulamentação

entre escritores e editoras e o surgimento da concorrência entre as editoras que surgiam (sobretudo entre Laemmert e Garnier, que se fi rmaram no Brasil por volta de 1872), o que é sempre bom para a melhora de qualquer mercado, não se pode dizer que a profi ssionalização do escritor já estava esta belecida nessa época.

A profissionalização se firmou, primeiramente, no mercado escolar. Foi nesse ramo que, por ser o único setor que trabalhava com o livro didático, muito rentável na época, nasceram os primeiros esboços de uma literatura infanto-juvenil. O livro didático era retorno garantido para as editoras, juntamente com os paradidáticos, que tanto atraíam as crianças devido ao colorido das imagens, ao consumo parcelado e ao fi nal feliz. Para Lajolo & Zilberman, “o livro didático talvez seja uma das modalidades mais antigas de expressão escrita, já que é uma das condições para o funcionamento da esco la” (1998: 121).

Sua existência depende de algumas condições. A primeira é a formação de uma política educacional, ou seja, se a educação dos indivíduos passa pela escola, então é preciso

produzir livros para estudantes e, ao mesmo tempo, dispor de professores, também formados

por esses livros. A segunda relaciona-se à estrutura tecnológica: para produzir livro, são

necessárias tipografi as e editoras, como já citado:

O livro didático, esse primo-pobre, mas de ascendência nobre, é poderosa

fonte de conhecimento da história de uma nação, que, por intermédio de sua

trajetória de publicações e leituras, dá a entender que rumos seus governantes

escolheram para a educação, desenvolvimento e capacitação intelectual e profissional

dos habitantes de um país. (Lajolo & Zilberman, 1998: 122)