A Capitolina 6, junho 2014 | Page 13

Escrituras 12

ção de relacionar a literatura infanto-juvenil com a educação, tentando conciliar tradição e inovação, tendo em mente, porém, produzir histórias que fossem além dos limites das paredes de uma sala de aula.

O aproveitamento da tradição popular, de transmissão original mente oral e vinculada às populações dependentes da economia agrícola, sempre foi uma constante da literatura infantil desde seu aparecimento na Europa, nos séculos XVIII e XIX. No Brasil, não aconteceu essa apropriação direta do material, e sim o recurso ao acervo europeu, quando este já

tinha assumido a condição de literatura para crianças.

Com a disseminação do Moder nismo, para o qual uma das fontes inspiradoras era o folclore, as chances de que esse tema fosse aproveitado aumentaram. Mesmo com a incorporação do acervo len dário e popular à literatura infantil, porém, nada impediu a adaptação de obras estran geiras. Isto é, as obras vindas do exterior, com suas diferentes culturas, ainda eram consu midas pelo público infanto-juvenil. No setor da tradução, vários trabalhos de qualidade apareceram entre os séculos XIX e XX, orientados por professores e escritor brasileiros. Deve-se destacar a atuação de Carlos Jansen, que traduziu para o português muitas obras estrangeiras, como As viagens de Gulliver.

É preciso lembrar um impor tante fator para a proliferação das traduções de obras infanto-juvenis: a formação da infância brasileira após a década de 30, período em que se tornou obrigatória a freqüência à escola. Até então, persistia a infl uência das amas-de-leite, escravas e ex-escravas, a quem cabia, entre outras tarefas, transmitir o ensino sobre, principalmente, a pátria. O nacionalismo foi uma bandeira do Modernismo, mas, na literatura para crianças, reper cutiu de maneira tradicionalista. Verifi ca-se a presença de uma visão cívica da pátria, fazendo das histórias pretexto para a valorização de símbolos, heróis ou episódios nacionais. Monteiro Lobato foi marcante neste período da literatura infanto-juvenil, pois, em suas obras, o espaço físico e a natureza são tão importantes quanto as personagens huma nas das histórias.

Atualmente, o que se vê é uma diversidade de temas que enriquecem o mercado livreiro infanto-juvenil. Isso, porém, não garante seu pleno sucesso, visto que o livro sofre grande concorrência com outros objetos de lazer, muitas vezes preferidos pela criança e pelo jovem. Recentemente, Ferreira (2001: 11) narrou uma história da produção acadêmica sobre leitura. Segundo a autora, o livro está, atualmente, ameaçado por meios de comunicação mais atrativos, como a TV, o cinema, o vídeo-game e o CD-ROM e a internet. Trata-se, porém, ainda, da melhor forma de registrar o fi m de uma civilização e o início de outra, pelas histórias contadas por homens daquele momento e daquele lugar. Nada retrata tão bem uma civilização quanto um livro produzido em sua época.

O livro é um produto intelectual, que se concretiza num certo suporte de material e envolve não só o autor e o leitor, mas diferentes pessoas que se incumbem de (re)organizar um conjunto de impressão, distri buição e circulação dessa mercadoria. Uma mercadoria que, como tal, é objeto de produção e consumo. No encontro entre o livro editado e o leitor se produz um universo

de crença no valor do seu produto (leitura é um bem necessário), construído e determinado pelo mercado. A leitura vive de uma propaganda dela própria que é de interesse dos agentes econômicos envolvidos na produção de objetos de leitura e que investem em (novos e mais) consumidores. (Ferreira 2001: 11)

Sendo o livro esse produto intelectual, de suporte menos moderno que os virtuais, porém a forma mais completa de transmissão cultural, cabe ao autor manter o leitor convencido de que o livro é capaz de suprir muitas das necessidades intelectuais do ser humano. O leitor é um sujeito a quem se deve seduzir e convencer, sobretudo o leitor infanto-juvenil, visto que as crianças e os jovens, além de já não estarem habituados ao universo da leitura fora daquilo que lhe é imposto pela escola, hoje em dia são muito mais atraídos pelos jogos

virtuais, pela internet e por tudo o que estiver relacionado a entretenimento vinculado à tecnologia.

É preocupante observar como, no Brasil, em meio a tantos campos de conhecimento,

há, de acordo com Ceccantini (2004: 34), um grande “empurra-empurra (...) para ver a quem

cabe o ‘pesado fardo’ de se ocupar da literatura infanto-juvenil”. Para uma expansão desse

gênero literário, tornam-se necessárias pesquisas na área e divulgações, inclusive em meios

não–acadêmicos. No entanto, em diversos veículos de comunicação renomados, pouca atenção

é dada à literatura infanto-juvenil.

Se considerarmos revistas semanais de grande tiragem, como Veja, Isto é e

Época ou, para fi car circunscrito ao contexto específi co paulista, se nos ocuparmos

dos cadernos de cultura de jornais como Folha de São Paulo e O Estado

de São Paulo, verifi caremos que não há absolutamente colunas que, de forma

sistemática e com periodicidade regular, se dediquem à crítica das obras infanto-

juvenis lançadas no mercado. Quando muito, nos suplementos infantis

ou juvenis desses jornais, ocorre a divulgação dos lançamentos de obras,

acompanhada vez por outra por um ou outro comentário breve da equipe

de redação ou dos próprios leitores. Para além dessas publicações, talvez se

pudesse lembrar quando muito as curtas recensões de obras infanto-juvenis

em alguma revista feminina, como Cláudia, ou nas poucas revistas de grande